DE FÁTIMA PARA PORTUGAL

O Renovamento Carismático Católico em Lisboa

Para que a História dos Primórdios não se confine aos primeiros meses da sementeira, como servo que o Espírito Santo quis usar, vou tentar, de modo muito sintético, descrever os lugares, os tempos e os modos da difusão do Renovamento entre nós. Para isso vou servir-me das minhas memórias e dos relatos arquivados em PNEUMA. É na Revista PNEUMA e nos Arquivos de PNEUMAVITA que se podem encontrar os relatos, os testemunhas e a documentação dos Primórdios do Renovamento Carismático Católico em Portugal …

Como nos Estados Unidos, também em Portugal o Espírito Santo escolheu uma Casa Espiritana, onde fez o ninho para o nascimento e difusão do Renovamento: “Veio para o que era seu…” Esta Casa da Congregação do Espírito Santo, chamada Comunidade Espiritana da Estrela, situa-se na Rua de Santo Amaro à Estrela, ali mesmo à sombra da Basílica consagrada ao Sagrado Coração de Jesus, na Paróquia da Lapa.

Desde 1954 a 1966 eu fiz parte desta Comunidade Espiritana, dedicando-me de alma e coração, entre outras tarefas, à Animação Missionária, através da L.I.A.M. (Liga Intensificadora da Acção Missionária) e à Redacção do Jornal Acção Missionária e de outras publicações. De 1966 a 1973 trabalhei no Porto, também na Animação Missionária, como Director das Vocações e na pastoral da Juventude.

Em 1973-1974 (como já contei), durante o Ano Sabático que me foi proporcionado pelos meus Superiores, estive em Roma, fazendo uma reciclagem teológica e pastoral na Universidade Gregoriana. O melhor que me aconteceu em Roma foi ter encontrado e deixar-me envolver, até à medula dos ossos, pelo Renovamento Carismático, fenómeno religioso moderno, nessa altura ainda sem ressonância em Portugal. Vendo no Renovamento, não um movimento, mas uma Espiritualidade Universal, centrada no Espírito Santo, a quem os Espíritanos estão de modo particular consagrados, escrevi, de Roma, vários artigos para o jornal espiritano Acção Missionária. O primeiro artigo que escrevi no mês de Maio de 1974, intitulado “Pentecostalismo entre os Católicos” teve grande impacto e algumas contestações…

Recém-chegado a Lisboa (Setembro de 1974) para continuar, como antes, o trabalho de Animação Missionária eu sentia necessidade de reunir em oração carismática com um pequeno “grupo do coração” com a certeza de que a oração carismática iria fortalecer e fecundar o meu trabalho pastoral…

Três meses de cenáculo em pequeno grupo

A faúlha do Espírito que, em Roma, me iluminou, aqueceu e reanimou espiritualmente, impelia-me, suave e fortemente, a abrir as portas do coração para que se pudesse propagar… Continuamente ressoava em mim a palavra de Jesus: “Eu vim trazer o fogo à terra e só desejo que ele se propague” (Lc 12,49).

Entre os numerosos amigos e colaboradores das Missões, depois de rezar e discernir, escolhi alguns para orar e partilhar… Se bem me lembro convidei o Dr. Manuel Rodrigues Teixeira que fez o Noviciado e os estudos na Congregação do Espírito Santo. Só não foi ordenado sacerdote porque nas vésperas da ordenação diaconal foi acometido de epilepsia. Durante algum tempo lecionou filosofia no Seminário Espiritano de Fraião, em Braga. Como os ataques continuavam foi aconselhado pelos Superiores a desvincular-se dos votos religiosos, ficando, no entanto, vinculado, livre e generosamente, à Congregação nos trabalhos administrativos da Acção Missionária. Mais tarde veio a casar com a liamista D. Maria da Paz. Foi o primeiro casal a aderir ao Renovamento Carismático. Os outros convidados foram os seguintes: Maria Antónia Paiva e Maria do Carmo Carvalho (Liamistas na zona de Alvalade), Henrique Luis da Silva (aluno do Instituto Superior Técnico), Maria da Ascensão Santos (estudante de Medicina), Albertina Marques (estudante de Arquitetura), Cristina Cunha (Liamista do Lumiar) e o casal amigo Alberto Parreira e Maria dos Prazeres…

De Outubro de 1974 a Janeiro de 1975 este “grupo de oração” reunia, frequentemente, (ainda antes de se iniciar o Renovamento em Fátima) na pequena sala de visitas da Casa Nova dos Missionários Espiritanos, na Rua de Santo Amaro à Estrela, nº 51. Estes três meses de oração, partilha e estudo foram tempo de Cenáculo durante o qual o Espírito Santo nos preparou, sem o sabermos, para o Novo Pentecostes que iria acontecer na diocese de Lisboa.

Primeira reunião de porta aberta em Lisboa (5 de Janeiro de 1975)

Foi no Domingo da Epifania, festa iminentemente missionária, que o Senhor nos impeliu a abrir as portas deste pequeno Cenáculo e a realizar uma Reunião/Assembleia na Sala de Cima desta Casa Espiritana, verdadeiro ninho do Renovamento Carismático em Portugal. O primeiro encontro em Fátima, em 6 de Novembro de 1974, e a primeira Assembleia aberta no Salão da Casa de Retiros de Nossa Senhora do Carmo no 2º Domingo de Dezembro (que coincidiu com a Festa da Imaculada Conceição, em tempo de Advento) começou a ter ressonância em vários pontos do País, concretamente em Lisboa. O pequeno grupo de Lisboa que me acompanhou várias vezes a Fátima, discerniu que era bom abrir as portas, pois que “esta graça era não só para nós mas também para todos quantos de perto ou de longe ouvirem o apelo do Senhor nosso Deus” (Act 2,39).

Na tarde daquele dia 5, Festa da Epifania, foram abertas as portas do grande Salão de conferências, recolecções e actividades para a LIAM e Juventude Missionária… O Salão comporta 300 pessoas mas, com vários biombos, podia-se adaptar para grupos mais pequenos. Para esta actividade, com o número de presenças imprevisíveis, o salão foi dividido ao meio: a secção de entrada seria para a 1ª reunião informal; a outra, mais recolhida e adornada seria para a celebração da Eucaristia.

O acolhimento para este encontro iniciou-se às 15:00h, enquanto um grupo de alguns irmãos, intercediam, junto do Santíssimo, pelos frutos desta reunião carismática. As pessoas, vindas de várias partes, começaram a entrar e pelas 15:30h enchiam aquela parte da Sala. Eram cerca de 120 pessoas: Liamistas, Religiosas/os, Seminaristas, Leigos de vários movimentos e um pequeno grupo de Sacerdotes. Entre estes estava o P.e António Fernandes, Beneditino, acabado de chegar dos Estados Unidos, onde estivera em actividades pastorais, tendo aí encontrado vários grupos de oração de língua inglesa. Foi uma surpresa agradável e daí em diante será, em comunhão connosco, um óptimo colaborador. Entre as religiosas estavam algumas Irmãs Oblatas do Coração de Jesus, da Comunidade Colégio da Rua das Praças, da paróquia de Santos o Velho. Entre elas a Irmã Rosa Brun que com sua irmã de sangue, também das Irmãs Oblatas, a residir no Porto fizeram uma experiência carismática em França (Tours) em Julho do ano anteriror.

Atendento ao número imprevisto de tantos irmãos, depois de ter ensinado, o “Eu Louvarei” e outros cânticos do Renovamento, criando clima para o Cenáculo deste dia de Epifania, resumindo, contei a história do início do Renovamento Carismático, na Universidade Espiritana de Duquesne (Pittsburg-USA) e relatei um pouco a minha experiência e caminhada, em Roma, no Grupo de língua francesa “Hossanna“. Referi também a experiência iniciada em Fátima, no dia 6 de Novembro de 1974 e o modo como o Renovamento se estava a propagar naquela diocese de Leiria-Fátima.

Também o P.e António Fernandes relatou um pouco o que havia presenciado nos Estados Unidos e a Irmã Rosa partilhou a sua experiência em França. Estes dois testemunhos, inesperados, foram graças que iluminaram e fortaleceram este primeiro encontro, em Lisboa.

Depois de um breve intervalo reunimos, em Assembleia Eucaristica, na outra parte da Sala preparada para o efeito. Ninguém arredou pé e aquela Eucaristia da Epifania foi o ponto alto deste Encontro.

O clima que se vivia era de profunda alegria e comunhão fraterna. A Epifania (manifestação do Alto) que atraiu os Magos ao encontro de Jesus na Judeia foi também para todos nós uma manifestação da glória do Senhor. Toda a Assembleia teve consciência profunda da presença viva de Cristo em nós e entre nós derramando sobre a Comunidade, de modo imprevisível, uma grande efusão do Seu Espírito. Como os Reis Magos, em sintonia com a Eucaristia, naquela Casa Missionária, à sombra da Basílica da Estrela, também as pessoas cantavam e rezavam: “Vimos a Sua Estrela no Oriente e viemos com presentes adorar o Senhor…” (Mt 2,2)

A celebração litúrgica terminou com um tempo de partilha fraterna. Cada um, à sua maneira, partilhava a experiência vivida e cantava-se com alegria e entusiasmo “Eu louvarei, eu louvarei, eu louvarei, eu louvarei o meu Senhor!…

A Assembleia pediu para que se continuassem a realizar estas reuniões. Alguns até pediam todos os Domingos. De comum acordo, salvaguardando a reunião semanal do pequeno núcleo que já reunia desde Outubro do ano anterior, e sobre o qual pesava a responsabilidade de preparar em oração, jejum e discernimento, futuros encontros, em união com Fátima, ficou assente que a próxima Assembleia (de porta aberta) se realizaria no primero Domingo de Fevereiro, dia 2, por coincidência festa da Apresentação e do Venerável Padre François Libermann, um dos fundadores da Congregação do Espírito Santo.

Todos concordaram com a data. A todos foi dito que não haveria telefonemas, nem circulares a convocar e avisar as reuniões carismáticas. A vivência e o testemunho pessoal seriam o convite mais eficaz……

Segunda reunião de porta aberta na Casa dos Missionários do Espírito Santo (à Estrela)

Desde o dia 5 de Janeiro (Epifania de 1975) até ao dia 2 de Fevereiro, o pequeno grupo (“grupo do coração” como alguém lhe chamou) continuou a reunir semanalmente, às Terças-Feiras à noite, na casa dos Espiritanos. Todo o grupo sentiu, em profunda sintonia, que poderiamos convidar para este pequeno “núcleo”, a Irmã Rosa Brun, das Oblatas do Sagrado Coração de Jesus que, como disse, em Julho de 1974, havia feito, com sua irmã Maria de Jesus Brun, uma experiência carismática em Tours, França. Ela aceitou. Uma Terça-Feira, à noite, em 21 de Janeiro, este pequeno grupo, a pedido da Superiora, Irmã Maria José, deslocou-se ao Colégio das Oblatas, na Rua das Praças 17, para participar numa Eucaristia a que eu presidi.

Senti que as irmãs da Comunidade estavam muito abertas à oração carismática, fruto do testemunho e dinâmica carismática que a Irmã Rosa e algumas irmãs francesas imprimiam à vida orante da Comunidade. Foi a primeira comunidade religiosa a abrir-se e a renovar-se, em Portugal, através do Renovamento Carismático. Com frequência o nosso pequeno grupo ia ao Colégio do Sagrado Coração de Jesus para rezarmos em conjunto. Foi deste modo, inesperado, que as Irmãs Oblatas abriram as portas para as actividades que ali se realizariam: Seminários de Vida Nova no Espírito, Encontros de Jovens, Retiros, Festas do aniversário do Renovamento Carismático em Lisboa que coincidem sempre com o aniversário do grupo/Comunidade Pneumavita. Várias vezes o Senhor D. Albino Cleto, então Bispo auxiliar de Lisboa, participou e viveu connosco estas celebrações no grande ginásio do colégio.

Reunião/Assembleia do dia 2 de Fevereiro de 1975

Conforme a deliberação do dia 5 de Janeiro, sem telefonemas, nem circulares, a 2ª reunião, de porta aberta, realizou-se no Salão de Cima, na Casa Espiritana da Estrela, no dia 2 de Fevereiro, Domingo. Era a festa da Apresentação e também data comemorativa da morte do Venerável Padre François Libermann, um dos fundadores da Congregação do Espírito Santo. O Salão, totalmente aberto, estava lindamente decorado com paineis: do Espírito Santo, de Nossa Senhora e de Libermann. O Altar, quase ao fundo, envolvido com artísticos arranjos de flores convidava, como centro de convergência, a comunidade que ali ia reunir, ao louvor, à escuta da Palavra e à participação na Ceia Eucarística. Para que o salão se transformasse nun cenáculo assim tão belo, muito contribuiram as pessoas do Núcleo e, de modo particular, a Irmã Maria de Lourdes, das Irmãs Doroteias a quem o Senhor concedera, de modo extraordinário os dons da oração, humildade, simplicidade e arte da decoração. A Irmã Maria de Lourdes, com uma criatividade invulgar, transformava em jardins de beleza os lugares da Casa onde a Comunidade e Assembleia reuniam em oração. Soube das nossas reuniões, veio, apaixonou-se pelo Renovamento e, desde esta data até à sua morte, em Julho de 1988, foi duma fidelidade e dedicação impressionantes. A Irmã Maria de Lourdes e o dr. Manuel Rodrigues Teixeira (este veio a falecer em Julho de 1987) foram duas colunas de que o Espírito Santo se quis servir para formar e sustentar a Comunidade Pneumavita.

Com o Salão preparado, abriram-se as portas. As pessoas apinhavam-se junto da portaria. Com a oferta de uma vela, a equipa de acolhimento recebia as pessoas, com indizível alegria, orientando-as para o lugar de antemão preparado para esta tarde festiva. Na reunião de Janeiro participaram cerca de 120 pessoas. Neste dia 2 de Fevereiro, pelas 15.30h já se encontravam na sala mais 200 pessoas: alguns sacerdotes, religiosas de várias congregações, de modo particular Irmãs Oblatas e Servas de Nª Sª de Fátima, seminaristas, um bom grupo de jovens e outras pessoas.

Das 15.30h até às 16.00h vários cânticos carismáticos eram ensaiados e cantados com alegria, criando clima para a vivência litúrgica desta festa. De novo, atendendo a muitas pessoas que vinham pela primeira vez, dei umas pinceladas rápidas sobre o Renovamento Carismático Católico: história, natureza, coordenadas fundamentais.

A Irmã Maria Gonçalves, S.N.S.F. veio de Fátima com um pequeno grupo para participar, colaborar e testemunhar.

Pelas 16.30h iniciou-se a celebração litúrgica, neste Dia da Luz, com a benção das velas. O salão transformou-se num jardim de flores e de luz. Era a festa das “candeias”. Seguiu-se a celebração da Palavra e a seguir à homilia, como é costume no Renovamento Carismático, em Assembleias de Louvor, a Palavra de Deus foi rezada, adorada e partilhada pelos sacerdotes e algumas pessoas da assembleia. Como no dia 5 de Janeiro, neste dia com maior intensidade, gerou-se um clima de paz, de alegria, de luz interior e de amor fraterno. Sendo muitos sentiamos que eramos um só corpo, com uma só alma e um só coração. Cristo, Palavra de Deus e Pão Eucarístico, pela orça do Espírito Santo manifestava a Sua presença real-sacramental. Este Cenáculo, sem o sabermos, iria tornar-se o ninho do Renovamento Carismático Católico em Portugal.

Depois da acção de graças, como presidente da Assembleia, pedi para que as pessoas que se sentissem interpeladas dessem o seu testemunho. Muitos irmãos e irmãs se levantaram e testemunharam com muita fé e alegria:

“A paz que me inunda não a posso descrever. Em mim e entre nós aconteceu pentecostes”; “A presença viva de Jesus em nós e entre nós é uma graça extraordinária que eu nunca tinha experimentado…”; “Sinto que esta tarde de cenáculo vai marcar profundamente a minha vida”; “A luz de Cristo glorioso dissipou muitas trevas que me envolviam…”; O Espírito Santo invadiu-me e sinto-me criatura nova…”; “Sinto que Jesus quer fazer de nós missionários para espalhar esta luz e este fogo que arde dentro de mim…”; “Peço a Deus que estas reuniões continuem e os grupos carismáticos se espalhem em Portugal. Isto é um novo pentecostes…”

E os testemunhos continuariam indefenidamente. As horas do relógio diziam que era necessário partir. Eram quase 18.30h.

A seguir a estes testemunhos espontâneos louvàmos o Senhor, cantàmos com alegria. A próxima reunião foi marcada para o dia 2 de Março, aqui à mesma hora. A assembleia terminou e cada um/a partiu levando no coração uma faúlha deste fogo novo que Cristo trouxe à terra e que só deseja que ele se propague… Após esta 2ª reunião de porta aberta, impressionado (quase assustado) por esta maré que, inesperadamente, aumentava, como quem está numa encruzilhada sem saber que rumo seguir, em oração eu perguntei a Jesus: “Senhor, que queres que eu faça?… Senhor, mostra-me o caminho que devo seguir…”. E, no fundo do coração, eu sentia uma voz interior que me dizia, suave e fortemente: “informa, conta ao teu Bispo o que viveste em Roma e o que está a acontecer em Fátima e em Lisboa.”

Carta ao Senhor Cardeal Patriarca

Com data de 4 de Fevereiro de 1975, escrevi uma carta ao Senhor D. António Ribeiro, Cardeal Patriarca de Lisboa. Era meu desejo nada fazer contra ou à margem do meu Bispo. Nesta carta eu partilhei, de modo sucinto, a minha experiência em Roma no Renovamento Carismático Católico. Relatei como o Renovamento se iniciou em Fátima, com a aprovação do Senhor D. Alberto Cosme de amaral, Bispo de Leiria, em Novembro de 1974. Informei depois, como estava a rezar com um pequeno grupo de amigos, à porta fechada, na casa Espiritana da Estrela, desde o mês de Outubro de 1974. Mais pormenorizadamente informei também o Senhor Patriarca do grande número de pessoas que compareceram nos dois domingos em que abrimos a porta: no dia de Epifania, 5 de janeiro (120 pessoas) e no primeiro domingo de Fevereiro (mais de 200 pessoas). Disse que não ousava prosseguir sem a orientação pastoral do meu Bispo.

A carta, enviada no dia 4 de Janeiro, teve resposta imediata, através de um telefonema do Secretário, marcando-me uma audiência especial com o Senhor Patriarca para o dia 6 pelas 18.00h.

Esta audiência particular foi uma graça extraorodinária não só para mim como para o Renovamento Carismático Católico.

Audiência particular com o Senhor Cardeal Patriarca

A carta enviada ao Senhor Cardeal Patriarca, D. António Ribeiro, no dia 4 de Fevereiro, teve resposta imediata, através de um telefonema do Secretário de Sua Eminência, marcando-me uma audiência particular com o Senhor Patriarca, para o dia 6 às 18.30h.

Esta audiência particular foi uma graça extraordinária não só para mim como para o Renovamento Carismático Católico.

O Senhor D. António Ribeiro recebeu-me de modo muito cordial. Durante algum tempo contei-lhe, em pormenor, o que na carta dizia sumariamente: a minha experiência em Roma, o início do Renovamento no Santuário de Fátima, relatando, também, o que estava a acontecer na Casa Espiritana de Lisboa.

O Senhor Patriarca ouviu-me atentamente e depois disse-me:
Pe. Lapa, eu dou graças a Deus pela sua experiência carismática em Roma e pelo que está a acontecer entre nós. Conheço o livro “Une nouvelle Pentecôte?” do Cardeal Suenens, com o qual já dialoguei, várias vezes, sobre este fenómeno religioso moderno, fruto do Vaticano II. Dou graças a Deus por também, em Portugal, estar a germinar, a partir das bases, esta renovação do Espírito Santo. 

Percebi, nesta audiência, que o Senhor D. António Ribeiro, estava bem documentado e conhecia, por dentro, a história, a natureza e a dinâmica do Renovamento Carismático Católico. Depois disse:
Fale aos seus superiores e pode prosseguir; tem o meu apoio, aprovo e abençoo o seu grupo e o Renovamento Carismático Católico em Lisboa.

Quando lhe entreguei, como oferta, o livro do Cardeal Suenens “Une nouvelle Pentecôte?” o Senhor Patriarca disse-me: O P.e Lapa, traduza e divulgue esse livro em Portugal.

O livro só não foi publicado pela Editorial L.I.A.M. (já havia alcançado a autorização do meu Provincial e seu Conselho), porque os direitos de tradução já haviam sido cedidos às Edições Paulistas.

Quase ao terminar esta audiência, o Senhor Patriarca sugeriu-me: fale com o Reitor do Seminário dos Olivais para que os seminaristas participem nessas reuniões. Pode também convidar alguns sacerdotes do Patriarcado, nomeadamente sacerdotes que estão a trabalhar com jovens.

Segredou-me que estava a pensar, após as eleições, convidar o Cardeal Suenens a vir a Portugal para falar desta renovação no Espírito Santo. Foi também de opinião que eu deveria organizar, com os mais comprometidos, uma pequena equipa de discernimento e coordenação de actividades, já que isto me começava a ultrapassar. Ao falar-lhe do Congresso internacional a realizar em Roma, no Pentecostes (Maio próximo), o Senhor D. António incentivou-me a selecionar um pequeno grupo que me acompanhasse, para um melhor conhecimento e uma vivência mais profunda do movimento carismático. No Pentecostes de 1975, um grupo de sacerdotes, religiosas e leigos, num total de 17 pessoas, participou neste Congresso internacional, como mais à frente relatarei.

E, na hora da despedida, o Senhor Patriarca, ao dar-me a sua benção de Pastor, extensiva a esta actividade carismática, disse-me que iria rezar para que também, em Portugal, como noutras partes do Mundo, Deus derramasse os dons do Seu Espírito para a renovação da Igreja.

Ao deixar o Patriarcado eu vinha inundado de paz, de alegria, de felicidade, certo de que esta obra não era minha mas de Deus. Senti que este encontro eclesial havia sido uma graça do Senhor para que este Fogo do Espírito (Labat) alastrasse por toda a parte.

Como Maria, eu louvava o Senhor e meditava nas palavras que o meu Bispo me havia dirigido, sinalizando com luz e força a trajectória do caminho a percorrer…

A luz verde do meu Superior Religioso

Neste ano de 1975 ainda era Provincial dos Espiritanos em Portugal o Pe. José Gonçalves de Araújo, o mesmo que me permitiu fazer a reciclagem teológica, em Roma, no ano lectivo de 1973-1974. Passados 20 anos de actividade pastoral na L.I.A.M. ele e eu concordamos em fazer esta paragem de um ano, habitualmente chamado, entre nós, “ano sabático”.

Ao regressar de Roma, novamente colocado na L.I.A.M., em Lisboa, confidenciei-lhe a minha experiência carismática em Roma. Fui-lhe relatando o que acontecera em Fátima, onde germinou o Renovamento Carismático Católico, e o que estava a acontecer com as Assembleias dos primeiros Domingos, aqui, em nossa Casa da Estrela. Homem bom, compreensivo e dialogante (o Senhor já o chamou para o Céu), o Pe. Gonçalves de Araujo, apaixonado pelo Espírito Santo ao qual a Congregação está, de modo particular, consagrada, logo se apercebeu que aqui estava o dedo de Deus e, desde a primeira hora facilitou-me este trabalho pastoral. Depois de lhe contar o que acontecera com a audiência particular que o Senhor Patriarca me havia concedido, pediu-me para que escrevesse, para ele e para o seu Conselho Provincial, um breve relatório da história do Movimento Pentecostal Católico, da minha experiência em Roma e do que estava a acontecer em Portugal. De bom grado escrevi esse pequeno Relatório. Entreguei-lho no dia 4 de Março de 1975, altura em que se realizava o Conselho Provincial, no Seminário do Fraião, em Braga.

Com data de 6 de Março de 1975, o Pe. Provincial escrevia-me a carta que transcrevo:

Fraião-Braga, 6 de Março de 1975

Amigo Pe. Lapa
Bom dia! Que o Espírito Santo seja cada dia mais o nosso traço de união. Creio que a nossa reunião do Conselho já passou de meio e, ontem, à tarde, aprovou a luz verde que lhe dei para continuar empenhado na difusão do Movimento Pentecostal Católico, pedindo, no entanto, para não descurar o nosso Movimento de Animação Missionária.

Aprovou também a tradução e publicação, pela nossa Editorial, do livro do Cardeal Suenens, insistindo que nos dessemos pressa em assegurar os direitos de tradução e difusão em língua portuguesa. Poderia V.R. tratar de pedir esses direitos ou tratar dos trâmites necessários para o conseguir. Creio que também já temos tradutor, embora este só em possibilidade que, seguramente, se confirmará.

Até breve!
Um abraço na amizade do Espírito Santo
Pe. José Gonçalves de Araújo

Esta carta deu-me plena luz verde para, em união com o Bispo e o meu Superior Maior, prosseguir este trabalho: difundir este “movimento” cujo objectivo fundamental é levar os cristãos a viver, cultivar e difundir a devoção, o culto, a consagração ao Espírito Santo, fazendo a experiência da vida nova no Espírito, renovando, de modo particular, pela “efusão do Espírito” (ou Baptismo no Espírito), a graça do Baptismo e da Confirmação. Através desta actividade pastoral, que, mais que “movimento”, é uma espiritualidade para toda a Igreja, se dá o devido relevo à Pessoa e acção do Espírito Santo, alma da Igreja, “motor e motorista da Nova Evangelização”.

O livro “Une nouvelle Pentecôte?” só não foi publicado pela Editorial L.I.A.M. porque os direitos de tradução e publicação já haviam sido concedidos às Edições Paulistas, onde pode ser encontrado.

P.e José da Lapa
Missionário do Espírito Santo

O Renovamento Carismático Católico propaga-se em Lisboa

Fortalecido e apoiado na aprovação do Senhor Cardeal Patriarca e com a luz verde do meu Superior Religioso, a palavra de Jesus no Evangelho “Eu vim trazer fogo à terra e o meu maior desejo é que ele se propague” bailava continuamente no meu espírito..

“Eu vim trazer fogo à terra e o meu maior desejo é que ele se propague!” (Jesus no Evangelho)

Fortalecido e apoiado na aprovação do Senhor Cardeal Patriarca e com a luz verde do meu Superior Religioso, a palavra de Jesus no Evangelho “Eu vim trazer fogo à terra e o meu maior desejo é que ele se propague” bailava continuamente no meu espírito e aquecia o meu coração, transmitindo-me força, dinamismo para que o fogo do Pentecostes penetrasse não só a actividade missionária que eu continuava a desenvolver mas atingisse também toda a Igreja, nestes tempos difíceis após o Concílio e a revolução do 25 de Abril.

Antes de viajar para outros pontos do País, aonde o Senhor me vai chamar para atear este fogo novo, hoje quero limitar-me a relatar como o Renovamento no Espírito Santo se começou a propagar em Lisboa.

As reuniões na Casa Espiritana da Estrela, com Assembleias mensais nos primeiros domingos, cada vez mais concorridas e animadas, continuaram a realizar-se até às férias de Verão. Entretanto, o Espírito Santo providenciava para que outras pessoas qualificadas aparecessem para colaborar na difusão desta corrente de graça, que Paulo VI designou, na 2ª feira de Pentecostes de 1975, “une chance” uma graça, uma oportunidade para toda a Igreja.

Irmãs Oblatas do Coração de Jesus

As Irmãs Oblatas do Coração de Jesus do Colégio da Rua das Praças, com a Irmã Rosa Brun à frente (ela havia feito a experiência carismática em Tours (França) no mês de Julho de 1974), estão na primeira linha da difusão deste “movimento”, não só participando nas mais diversas actividades mas também facilitando-nos a capela e o ginásio para aí se realizarem encontros de jovens, celebrações litúgicas e, durante muitos anos, Seminários de Vida Nova no Espírito, especificamente para a Comunidade Pneumavita… Em capítulos anteriores já a elas me referi.

Servas de Nª Senhora de Fátima

Precioso contributo ao Renovamento Carismático deram as Irmãs Servas de Nossa Senhora de Fátima. A Irmã Maria Gonçalves, que comigo colaborou, foi (como já se relatou) o instrumento de que Nossa Senhora se serviu para iniciar o Renovamento Carismático Católico, em Fátima. Ela foi o elo de ligação entre o polo de Fátima e o polo de Lisboa. Além das irmãs que mais de perto colaboraram com a Irmã Maria, no Santuário de Fátima, onde nasceu e se começou a desenvolver o Renovamento, em Lisboa, várias irmãs da Casa Generalícia, junto da Igreja de S. Mamede, deram um preciso e precioso contributo para a consolidação e difusão do Renovamento Carismático. Tendo participado em algumas reuniões, em Fátima, e depois nas Assembleias dos primeiros domingos na Casa Espiritana da Estrela, apaixonaram-se por esta espiritualidade carismática que as marcou indelevelmente e, como Servas, abriram não só as portas da Comunidade S. Mamede como se disponibilizaram para colaborar nas actividades que o grupo inicial (na Rua de Santo Amaro à Estrela) ia programando. Na impossibilidade de a todas me referir, quero sublinhar e prestar sincera homenagem de amizade e gratidão à Irmã Aurélia, na altura, Secretária Geral da Congregação (que Deus já chamou ao Seu Reino) e à Irmã Zulmira, antiga mestra de Noviças e naquele tempo Superiora da Comunidade. Uma e outra apaixonaram-se, verdadeiramente, pelo Renovamento Carismático Católico ao qual deram não só entusiasmo mas sobretudo amor e colaboração generosa. Foi na Casa das Servas de S. Mamede que os dois primeiros números da Revista PNEUMA, arquitectados pela equipa coordenadora, em máquina fotocopiadora (o melhor que havia a essa data) foram impressos, o nº 1 no Pentecostes de 1976 e o 2º no Natal do mesmo ano. A Irmã Zulmira, conhecida em todo o país pela sua dedicação à obra dos ciganos, viu no Renovamento uma graça extraordinária para, nos mais variados campos, evangelizar com os dons, os carismas e os frutos do Espírito Santo. Pôs a casa das irmãs ao serviço do Renovamento. Também lá se realizaram seminários de iniciação e de aprofundamento, muitas vezes com a presença do Senhor D. Maurílio de Gouveia, Arcebispo de Mitilene e Auxiliar de Lisboa.

O grupo que aqui se iniciou em 1976, rebento pujante do grupo inicial, foi baptizado com o nome “Emanuel”. Durante muitos anos este grupo funcionou na Casa das Irmãs, em S. Mamede, e, depois de várias estações, continua vivo e activo na Capela do Centro comercial das Amoreiras. Deste grupo, fiel ao espírito do Renovamento, surgiram outros pequenos grupos ramificados por várias zonas de Lisboa.

Irmãs Doroteias, do Colégio da Rua Artilharia Um

Naquele tempo, não só leigos mas também religiosos/as e sacerdotes, por necessidade ou curiosidade, compareciam em grande número nas Assembleias para participarem numa celebração carismática. Também as Irmãs Doroteias, do Colégio da Artilharia Um vinham participar na oração carismática, na Casa dos Missionários do Espírito Santo. Entre elas quero re-lembrar a Irmã Maria de Lourdes Silva, que, logo na primeira Assembleia em que participou, ficou de tal modo inebriada, envolvida e possuida pelo Espírito de Deus que, até à sua morte inesperada, em 4 de Julho de 1988, nunca mais abandonou a oração carismática, tornando-se, com o Dr. Manuel Teixeira, falecido no ano anterior, um verdadeiro pilar na construção do grupo/comunidade que já na altura se chamava “PNEUMA-ESPÍRITO E VIDA”. Além de um profundo dom de oração e de contemplação, a Irmã Maria de Lourdes, modelo de simplicidade, descrição e generosa colaboração, era reconhecida por todos como tendo o dom da arte decorativa ao enfeitar, não só o altar para as celebrações litúrgicas, como também de embelezar, com gosto original, as salas onde se realizavam as diversas activiades carismáticas. Através dela a sua Superiora e muitas irmãs não só participavam nas reuniões carismáticas como nos abriram as portas do Colégio para ali realizarmos celebrações eucaristícas, cursos de aprofundamento e encontros de confraternização…

Frei Fernando Faria O. Carmo, uma surpresa do Espírito

Por experiência própira, nestes anos (já passaram 31 anos desde que o Espírito Santo me envolveu nesta aventura) posso afirmar que, quando a obra é de Deus, no momento próprio Ele providencia, enviando as pessoas e proporcionando os meios necessários para a realização da Sua Obra. O Frei Fernando, teólogo-professo da Ordem do Carmo, a viver aqui ao lado, na Comunidade dos Carmelitas, junto da Igreja de Santa Isabel, ouviu falar nas Assembleias Carismáticas na Casa dos Missionários do Espírito Santo. Apareceu aqui no primeiro domingo do mês de Abril de 1975. Foi uma surpresa do Espírito, pois logo reconheci nele não só um jovem talentoso mas sobretudo um místico. No fim da Assembleia falamos longamente e logo se ofereceu para colaborar. Dei graças a Deus por esta surpresa do Espírito. No mês seguinte, o Frei Fernando apareceu acompanhado por um jovem que ia acompanhando espiritualmente, pois se tratava de um aspirante à vida carmelitana.

Este jovem de 15 anos, depois da ordenação sacerdotal de Frei Fernando, nomeado Mestre de Noviços, entrou no Noviciado, professou, ordenou-se sacerdote: chama-se Frei Pedro Bravo, também ele, depois da morte de Frei Fernando, Mestre de Noviços da sua Ordem.

Frei Fernando, ainda Seminarista de Teologia, foi um grande amigo e um fiel colaborador, não só na expansão mas também no aprofundamento do Renovamento Carismático em Lisboa. A sua experiência mística, enriquecida pela “efusão do Espírito”, mostrou-lhe os horizontes infinitos da graça que é o Renovamento Carismático para a renovação da Igreja.

Como veremos adiante, foi nos meses de Março, Abril e Maio que este fogo de um novo Pentecostes se propagou para o Porto, Coimbra, Braga, Setúbal… O Senhor D. António Ribeiro, Patriarca de Lisboa, a meu pedido, dissera-me que iria delegar num Bispo Auxiliar do Patriarcado para acompanhar o Renovamento Pentecostal. Isto aconteceu em Novembro de 1975. Entretanto era necessário dar um mínimo de acompanhamento aos grupos que surgiam por toda a parte. Confiando totalmente na ortodoxia e competência espiritual de Frei Fernando, pedi-lhe para acompanhar mais de perto os grupos que germinaram em Lisboa, enquanto eu continuaria a coordenar o grupo/comunidade mãe, na Casa Espiritana da Estrela e acompanharia, tanto quanto possível, os grupos no resto do País. Deliberamos isto, com o grupo central, em oração e todos concordaram. Vivendo em Lisboa o Frei Fernando, com relativa facilidade, poderia ajudar os grupos que precisassem. Eu que estava encarregado da animação missionária e tinha meio de transporte, facilmente me poderia deslocar a Fátima, Porto, Coimbra etc.

O Renovamento Carismático em Lisboa e no País alastrava cada vez mais. Em Lisboa, além dos grupos já mencionados, (Oblatas do Sagrado Coração de Jesus, Servas de Nossa Senhora de Fátima, Doroteias) novos grupos germinaram: grupos de Arroios, Amadora, Falagueira, Buraca Bº de Santa Cruz de Benfica, Damaia, Ribamar, Lourinhã, Rio de Mouro, Sintra, Igreja de Fátima, SS. Sacramento etc. Todos os meses para todos os grupos de Lisboa, havia, na Casa dos Espiritanos ou numa das Casas Religiosas mencionadas, uma Assembleia de louvor, ensinamentos, testemunhos. Sempre havia Eucaristia e frequentemente, tempos fortes de adoração ao Santíssimo.

Nos primórdios do Renovamento, o espírito que nos unia a todos era, à maneira dos primerios cristãos de “UM SÓ CORAÇÃO E UMA SÓ ALMA”. Este clima de fraternidade que se vivia em Lisboa tomava proporções, de maré alta, nos encontros de todas as Equipas Diocesanas que periodicamente se começaram a realizar em Fátima, como posteriormente relatarei.

P.e José da Lapa
Missionário do Espírito Santo

Primórdios do Renovamento Carismático na diocese do Porto

A expansão do Renovamento Carismático em Portugal foi, a todos os títulos, vertiginosa e imprevisível. Os polos de Fátima e de Lisboa, em perfeita sintonia de espírito e de acção tornaram-se, pela acção do Espírito Santo, os instrumentos propulsores para que esta graça de renovo pentecostal lançasse raizes, crescesse e frutificasse em todos os pontos do páis e nas mais variadas latitudes e povos de expressão portuguesa.

Os planos e os mistérios de Deus são insondáveis e o Seu Espírito, que enche o universo, sopra, como um novo pentecostes, onde quer, como quer e com quem quer…

Na revista PNEUMA nº 3, na Páscoa de 1997, se relata, de modo muito sucinto, o modo como germinou e cresceu o Renovamento carismático Católico, no Porto, em Coimbra, em Braga… Os meses de Março, Abril e Maio de 1975 foram o tempo propício para que este fogo novo do Espírito se propagasse no Norte… Os meses e o ano seguintes vão ser o tempo querido por Deus para, em comunhão com a hierarquia e os irmãos já atingidos por este “fogo”, iniciar a sementeira nos campos de Setúbal, Algarve e Alentejo, muito convulsionados, ainda, pela “revolução dos cravos”! Não foi por acaso que o Renovamento Carismático Católico, surgiu em Portugal, pouco depois do 25 de Abril de 1974. Nesta data estava eu em Roma, fazendo a caminhada dos Seminários de Vida Nova e saboreando, ainda em lua de mel, a graça da “efusão (baptismo) no Espírito”.

No dia 1 de Março de 1975, primeiro sábado do mês, brotou o primeiro grupo do Renovamento Carismático, nas Florinhas do Lar (casa das Irmãs Oblatas do Coração de Jesus), diocese do Porto.
A Irmã Maria de Jesus Brun com sua irmã de sangue Rosa de Jesus Brun, no mês de Julho do ano anterior, haviam feito a experiência da “Efusão do Espírito” em Tours (França). A irmã Rosa, a viver no Colégio das Oblatas, em Lisboa, entrou na onda dos generosos colaboradores do grupo inicial, a funcionar na Casa Espiritana da Estrela. Comunicou à sua irmã Maria de Jesus, a trabalhar nas Florinhas do Lar. Esta ficou entusiasmada em ver que chegara a hora para que o fogo do Espírito, que ardia em seu coração, se começasse a propagar no Porto. Em meados de Fevereiro telefonou-me pedindo para ir ao Porto, para na sua Comunidade se acender a fogueira do Renovamento Carismático. Disse-lhe que aceitava e combinamos o encontro para o dia 1 de Março. Entretanto pedi-lhe para que convocasse um pequeno grupo, com vivência cristã e que invocassem o Espírito Santo para que acontecesse pentecostes na Cidade da Virgem. O Encontro ficou marcado para a tarde do dia 1. Compareceram cerca de trinta pessoas, entre elas, se bem me lembro, além da Irmã Maria de Jesus e da Irmã Rosa que se deslocou de Lisboa, algumas irmãs da Comunidade, o P.e Delfim, a viver no Seminário da Sociedade da Boa Nova, em Valadares, o P.e António Fernandes O.S.B., o casal Silva Lopes, o Angélico com uma miúda pela mão, a sua filha Zélia que mais tarde se consagrou como religiosa nas Irmãs Oblatas. Presentes também o Ângelo, que com o Angélico vão ser preciosos instrumentos para colaborar na difusão do Renovamento através da Equipa de serviço Diocesana. Presentes, também, alguns jovens e outras pessoas convidadas por mim e que estavam ligados à L.I.A.M. (Liga Intensificadora da Acção Missionária) e à Juventude Missionária que eu acompanhava antes de ir para Roma.

Realização da 1ª reunião

Pelas 15.00h chegaram os convidados, acolhidos cordialmente pelas Irmãs Oblatas. Seguiu-se um tempo de apresentação. Eu e as Irmãs Maria de Jesus e Rosa, depois de uma breve oração invocando o Espírito Santo, apresentamos as linhas mestras da história e dinâmica da oração carismática e testemunhamos um pouco a nossa experiência em Roma e em Tours, nos meses de Março e Julho de 1974.

Depois de um breve intervalo, todo o grupo já ambientado, entrou na Capela das Irmãs para celebrarmos a Eucaristia, ponto central desta tarde de oração. Celebramos a Missa de Nossa Senhora a quem consagramos o Renovamento Carismático Católico na diocese do Porto. A Missa, profundamente vivida e participada por toda a assembleia, constituiu o marco fundamental para o início do Renovamento Carismático na Capital do Norte. Ao concluir a celebração eucaristica, os três que já havíamos feito caminhada, depois de se cantar ao Espírito Santo para que viesse com seus dons, frutos e carismas, rezamos individualmente por todos os presentes que testemunharam ter vivido uma experiência única, inexprimível, inolvidável…

No fim da Celebração eucarística as Irmãs Oblatas presentearam todo o grupo com um lanche de confraternização o que sensibilizou muito esta pequenina comunidade nascente…

Como em Fátima e em Lisboa todos perguntavam:

Quando podemos ter novo encontro? Ficou combinado que além de pequenos encontros de oração com a Irmã Maria de Jesus, na comunidade das Florinhas do Lar, até ao Verão, se realizariam tardes de oração nos segundos domingos do mês, das 15.00h às 18.00h. Eu prometi que tudo faria para vir participar nos domingos em que pudesse deslocar-me de Lisboa ao Porto. Entretando o P.e Delfim e o P.e António Fernandes O.S.B. prometeram colaborar para ajudar espiritualmente o grupo central e os grupos que, passado pouco, começaram a germinar na cidade e noutros pontos da Diocese.

Expansão do Renovamento Carismático na Diocese do Porto

Da fogueira acesa no dia 1 de Março de 1975, nas Florinhas do Lar, como noutras partes e quase espontaneamente, os participantes da primeira reunião começaram a reunir, em várias partes iniciando pequenos grupos de oração, dentro do espírito e dinâmica do Renovamento Carismático Católico. A Irmã Maria de Jesus, com os Padres Delfim e António Fernandes informaram o Senhor D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto. Em audiência particular, pelo que me contaram, o Senhor D. António recebeu-os cordialmente e, em diálogo fraterno, deu-lhes orientação pastoral e incentivou-os a acompanhar e a orientar espiritualmente os grupos nascentes para que progredissem e não se desviassem da fé católica e do espírito e vida do Renovamento, já então abençoado e aprovado pelo Papa Paulo VI. Como sinal de benção, de aprovação e de apreço o Senhor D. António Ferreira Gomes, conhecedor deste fenómento religioso moderno, fruto do Vaticano II em que ele participou, dignou-se presidir à 2ª Assembleia Nacional deste “renovo espiritual” (como ele gostava de designar o Renovamento) em Vila Nova de Gaia, no ano de 1978, proferindo uma das mais belas homilias sobre a “Igreja de Cristo essencialemte hierárquica e essencialmente carismática” (Cf Revista Pneuma, Abril de 1978).

O Porto, foi nos primórdios, a diocese onde o Renovamento Carismático mais depressa cresceu e se desenvolveu. Na cidade e arredores germinaram, cresceram e frutificaram vários grupos dos quais saltaram faúlhas deste fogo novo para os 4 pontos cardeais. Aponto, como referências fundamentais, além do grupo inicial nas Florinhas, o grupo Tabernáculo de Santa Maria (Hospital de Santa Maria), Fermento de Vida Nova (Casa-Cenáculo, Rua do Vale Formoso), Ora et Labora (Singeverga), Comunidade de Vida (Colégio dos Orfãos), Àgua Viva (Foz), Paz e Bem (Casa de Saúde da Boavista), Grupo Santíssimo Sacramento (na paróquia do mesmo nome) etc.

A maternidade e o berço do Renovamento no Porto

A Casa das Irmãs Oblatas, foi a “maternidade” o “ninho” que o Espírito Santo escolheu para iniciar no Porto o Renovamento Carismático. Passados meses, organizada já uma pequena equipa de serviço para orar, disdernir e coordenar, apareceu, providencialmente, uma casa grande do casal Bella (Maria de Fátima e Capitão Joaquim Bella) já marcados com o selo desta vida nova no Espírito. Este casal pôs a sua casa à disposição para ali se realizarem encontros de refexão e orações carismáticas para os responsáveis dos vários grupos. Esta casa, durante vários anos, vai tornar-se o “berço”, a “creche” o “ginásio” e o Secretariado provisório do Renovamento Carismático do Porto. Nas muitas vezes que, nos primeiros anos, me desloquei ao Porto para colaborar, como sacerdote e amigo, nos encontros dos Segundos Domingos que reuniam centenas de pessoas, no colégio das Irmãs Escravas do Coração de Jesus, ou no Colégio da Paz, das Irmãs Doroteias, ou noutros lugares, era na Casa Cenáculo da Rua do Vale Formoso que, em oração, partilha e convívio fraterno, se preparavam os Econtros dos Segundos Domingos, se reviam as actividades realizadas e se preparavam futuros eventos.

Naquele Cenáculo eu sentia-me em família e parecia-me ver ali uma cópia perfeita da Comunidade modelo de Jerusalém em que “os primeiros cristãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à união fraterna, à fracção do pão e ás orações” (Act 2,42).

Assim germinou, cresceu e começou a frutificar o Renovamento Carismático na Diocese do Porto.

P.e José da Lapa
Missionário do Espírito Santo

Primórdios do Renovamento Carismático em Coimbra

“Eis que vou realizar uma obra nova.Já desponta, não a vedes? No deserto traçarei uma estrada e rios brotarão na solidão!”(Is 43,18-19)

Estas palavras proféticas de Isaias, começavam a concretizar-se de modo extraordinário e imprevisto em Fátima, em Lisboa e depois na Diocese do Porto, como relatei nos números anteriores. O impacto a nível nacional era cada vez maior, daí os apelos que chegavam de vários lados para que esta semente de vida nova aí fosse lançada e pudesse germinar…

Em fins de Fevereiro, recebi dois convites de Coimbra: o primerio da L.E.C. (Liga Escolar Católica) da Escola Magistério Primário de Coimbra. O segundo, quase simultâneo, da Irmã Virginia, Directora Geral do Instituto das Servas do Apostolado. Ambos vinham no mesmo sentido. Pediam para orientar um Retiro, na linha carismática, na Casa de Retiros da Diocese, de 19 a 22 de Março de 1975 e realizar uma reunião de oração carismática.
Depois de rezar, de reflectir e de me aconselhar respondi afirmativamente.

Naquele tempo, em união e colaboração com o Pe. José Felício, Director da L.I.A.M., eu ia com frequência fazer reuniões e orientar actividades espirituais e missionárias nas Escolas do Magistério Primário, onde era grande, entre os professores, o entusiasmo pelas missões.

Respondi à Irmã Virgínia e á Presidente da L.E.C.F. que iria no dia 19. E fui. Sugeri que se fizesse uma reunião para os professores/as que iam participar no Retiro e para as Servas do Apostolado. Estas convidaram outras pessoas da cidade. Pelas 15.00h, fez-se esta reunião na Casa das Irmãs da Sagrada Família, que generosamente abriram as portas e, das mais variadas formas, colaboraram. Este primeiro encontro teve por finalidade contar, sumariamente, a história do Renovamento Carismático no Mundo, apontar, em traços largos, as coordenadas e a dinâmica do Renovamento Carismático e relatar um pouco o modo como esta espiritualidade de Pentecostes se iniciou em Fátima, em Lisboa e no Porto. Antes de terminar a reunião, à luz do texto que relata a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos e primeiros cristãos, reunidos no Cenáculo (Act 2.1…) fizemos um tempo de oração, pedindo pelo Retiro que ia começar e para que este fogo novo descesse sobre a Diocese de Coimbra, como em novo Pentecostes. De comum acordo ficou resolvido que no dia 22 (Domingo) após o almoço, e concluindo o Retiro, nos reunissemos todos, no mesmo lugar, para uma Assembleia Geral de louvor e de testemunho…

Primeiro Retiro do Renovamento em Portugal

Ao fim do dia 19, festa de S. José, iniciou-se o Retiro para o qual eu havia sido convidado. Realizou-se na Casa de Retiros da Diocese e nele participaram cerca de 40 professores e alunos e mestres da Escola do Magistério Primário de Coimbra.

O tema central para este primeiro retiro do Renovamento foi a palavra dos Actos dos Apóstolos, Cap. 2,4: “TODOS FICARAM CHEIOS DO ESPÍRITO SANTO.”

Os participantes já estavam preparados, através da reunião da tarde, para fazer esta caminhada de fim de semana, dentro do espírito e dinâmica do Renovamento Carismático. Não vou relatar, aqui, em pormenor o que se fez e como os retirantes acolheram e se abriram à acção do Espírito Santo. Mas posso dizer que as linhas mestras deste Retiro foram as que se costumam utilizar nos Seminários de Vida Nova no Espírito, preparando a “Efusão ou Baptismo no Espírito” que, fundamentalmente, é a renovação consciente e responsável do Sacramento do Baptismo, habitualmente recebido em criança. Os sub-temas de reflexão e oração: “o amor de Deus” “a conversão e aliança”“a vida nova em Cristo” prepararam a noite de vigília, de adoração, de cura e de libertação, durante a qual se rezou por todos e por cada um para que o Espírito Santo se manifestasse, como se manifestou há dois mil anos, no Cenáculo de Jerusalém, onde “todos ficaram cheios do Espírito Santo”. Isto aconteceu, de modo extraordinário e imprevisível, naquele retiro espiritual.

As orações de Laudes e Vésperas, as Eucaristias e tempos de Adoração eram participadas por todos. O clima de fraternidade e de partilha eram o complemento normal para que aquele grupo se sentisse uma comunidade animada pelo Espírito. Tudo o que estava a acontecer naquele cenáculo preparava os corações para acolher os ensinamentos finais, sobre a Comunidade e a Transformação em Cristo

Os testemunhos que deram, oralmente ou por escrito, autenticavam a presença de Jesus vivo, ali, no nosso meio, e a acção poderosa do Espírito Santo que derramou, em profusão os seus dons, frutos e carismas sobre esta pequena Assembleia onde realmente havia “um só coração e uma só alma”.

Transcrevo aqui, como ressonância, a carta e testemunho de uma professora que reencontrei em 2003 e que participou neste retiro:

Vª Nª de Tazem
18.03.2003

Padre Lapa
È sempre muito bom voltar a ver amigos que há tanto tempo não se viam, como entre nós, agora aconteceu. Que este reatar de amizade faça, realmente, parte dos planos de Deus para sempre podermos louvá-LO e bendizê-LO.

Só hoje depois de algumas pesquisas, para encontrar os apontamentos desse inesquecível retiro (mais algum tempo para os ler, organizar ideias e, por fim, escrever) só hoje, digo, me é possível enviar o testemunho (recordação) que me pediu.

Quero agradecer o envio das revistas. Estou a ler pausadamente, um bocadinho em cada dia porque são muito profundas nos seus conteúdos.

Saudações amigas e fraternas da Maria Adelina Carvalho

TESTEMUNHO – RECORDAÇÃO

No ano de 1975 estava no distrito de Leiria, concelho de Pombal, a exercer a minha profissão de professora do Ensino Primário – hoje 1º Ciclo do Ensino Básico – na freguesia de Santiago de Litém, onde residia. Tinha 34 anos.

Anualmente, nas férias da Páscoa, o Movimento Escolar Católico efectuava um Retiro no qual, eu, quase sempre participava.

Nesse ano o Retiro foi orientado pelo Missionário Espiritano Padre José da Lapa (sem o distanciamento de Reverendo… porque é um AMIGO).

Para mim esse Retiro foi um verdadeiro Retiro/Surpresa! Pelos temas e seu conteúdo, visando sempre um sentido prático: A CONVERSÃO.

Seu itinerário, passando pela coragem de cada um se pôr em causa para uma mudança radical. Mudança que deveria levar-nos a ser PRESENÇA QUALIDADE, PRESENÇA ACTUANTE, PRESENÇA DOM (à semelhança de Cristo).

. Unidade na multiplicidade dos CARISMAS. (Carisma – dom concedido pelo Espírito Santo para a EDIFICAÇÃO E A UNIDADE DA IGREJA).
. CORPO MISTICO – Solidários uns com os outros, unidos a Cristo.
Estou a lembrar alguns temas dos muitos que ao longo desses dias tivemos a Graça de ouvir e aprofundar.

Foi também para mim Retiro/Surpresa pela metodologia nele utilizada: duas ou três perguntas no final de cada tema para uma maior interiorização e para que deles pudessemos tirar proveito no aspecto humano e espiritual.

Por fim a surpresa máxima: eis-nos na Eucaristia final a fazermos ORAÇÃO CARISMÁTICA!… Tocante esse momento porque cada um de nós se exprimia conforme o Espírito Santo nos inspirava:

Orações de louvor, cânticos de adoração e de alegria, actos de Fé simples ou inspirados em algumas passagens do Evangelho. Pela acção do Espírito, Cristo estava no meio de nós e irmanar-nos, a fortalecer-nos, a inundar-nos de alegria… Todos ficámos cheios do Espírito Santo!
Surpreendente Retiro da Páscoa de 1975! Surpeendente e inesquecível!…

Glória a Ti Senhor!

Maria Adelina Carvalho

Como estava combinado, no dia 22, Domingo, pelas 15.00h, realizou-se na Casa das Irmãs da Sagrada Família, uma Assembleia Geral. Aos participantes do Retiro juntaram-se mais cerca de 30 pessoas que acompanharam as Servas do Apostolado ou que foram convidadas pelas Irmãs da Sagrada Família.

Foi uma tarde de Louvor, com a celebração da Eucaristia.
Assim se encerrava o Retiro e se iniciava, em Coimbra, esta “obra nova” que depressa se propagou por toda a Diocese.
Os testemunhos dos retirantes foram interpelantes.
Como noutras partes todos perguntavam: quando podemos voltar a reunir?

Finda a Eucaristia, com grande surpresa nossa, estava preparado um lanche de confraternização, no refeitório da Casa da Sagrada Família. A casa de Retiros foi a maternidade e a Casa da Sagrada Família o berço do Renovamento Carismático, em Coimbra. A Irmã Virgínia, Directora Geral das Servas do Apostolado, com os responsáveis da realização do Retiro, de antemão aprovado pelo Senhor Bispo, foram delegados para falar pessoalmente com o Senhor D. Manuel Almeida Trindade, Bispo da Diocese, relatando o sucedido e pedindo autorização para continuar com estes encontros do Renovamento Carismático. O Senhor Bispo concordou e abençoou esta iniciativa. As reuniões continuaram a realizar-se, periodicamente, na Casa da Sagrada Família. Passados alguns meses, dada a grande afluência de pessoas, os encontros mensais começaram a realizar-se na Quinta do Almegue das Servas do Apostolado…

O Renovamento Carismático penetra no Seminário Maior de Coimbra

Foi constituída uma Equipa de Serviço, coordenada pelas Irmãs Servas do Apostolado (Virginia e Josefa) com a colaboração de três professores/as da Escola do Magistério Primário e pelo enfermeiro António Luciano dos Santos Costa, que, posteriormente, entrou no Seminário e actualmente desempenha funções sacerdotais na Diocese da Guarda.

O Renovamento começou a crescer e a frutificar tanto na cidade de Coimbra como noutros pontos da Diocese.
A brisa suave desta espiritualidade de Pentecostes, não sabemos de que modo, penetrou no Seminário Maior de Coimbra.

A quando do primeiro aniversário do Renovamento na Diocese,

em meados de Março de 1976, realizou-se, na Quinta do Almegue, uma Assembleia Diocesana, com a presença fraterna de irmãs/ãos de Lisboa, Fátima e Porto. Este dia de Louvor foi uma graça extraordinária não só para os participantes (cerca de 300) mas também para o Seminário e Igreja de Coimbra. Vários seminaristas, como surpresa do Espírito, ali passaram o dia, levados pela curiosidade ou pela esperança de encontrar uma Igreja renovada, pela força do Espírito Santo. Se bem me lembro, marcaram presença neste dia de Cenáculo os seminaristas: Jorge da Silva Santos, Armando, José António, Mário (já falecido) e, entre eles, um jovem de nome Nogueira que, passado algum tempo, entrou no Seminário. Todos se apaixonaram pelo Renovamento Carismático e muito nele colaboraram tanto a nível diocesano como a nível nacional.

Neste momento, a concluir esta crónica, quero apenas recordar a grande graça que marcou este Encontro.

Ao fim da tarde daquele dia, depois da Eucaristia que encerrou a Assembleia, um jovem que eu desconhecia, veio ao meu encontro pedindo para falar comigo. Era o Jorge. Disse-lhe que naquele momento e naquele lugar não era fácil mas que pelas 21.00h, fosse à Casa dos Missionários do Espírito Santo, próxima do Seminário.

À hora marcada, o Jorge da Silva Santos, tocava à porta dos Espiritanos, Travª do Espírito Santo, nº 10. Entrou e na sala de visitas, falámos. O que vou relatar, de modo resumido, já não é sigilo, porque o Jorge, passados alguns meses escreveu o seu testemunho na Revista Pneuma, testemunho que também partilhou em Fátima numa grande Assembleia.

O Jorge apresentou-se. Disse-me que era seminarista no Seminário Maior e que, por conselho do seu Director Espiritual, e por sua vontade, tinha as malas feitas para deixar o Seminário. Disse que gostou imenso do dia passado na Quinta do Almegue e que, durante a Missa, com uma consciência profunda de que Jesus estava ali, vivo-ressuscitado, o chamava e lhe dizia: “Jorge, eu preciso de ti, não deixes o Seminário. Quero fazer de ti um sacerdote de predilecção, ao serviço da Igreja e do Renovamento Carismático”.

Disse-me que o fogo do Espírito Santo o invadiu e que desejava entregar-se totalmente a Cristo, deixando o caminho negativo que estava a seguir, desviando-o do Seminário…

Disse-lhe para falar de novo com o seu Director Espiritual, lhe contasse tudo o que se estava a passar e que lhe relatasse a experiência da Assembleia da Quinta do Almegue…

Depois de uma breve oração em conjunto, despedimo-nos com um abraço e um até breve.

O Jorge continuou no Seminário, ordenou-se sacerdote e foi escolhido, como vaso de eleição, para anunciar Cristo ressuscitado e de muitos modos dar vida e alegria aos grupos de oração e assembleias carismáticas, de modo particular através do canto.

Deus serviu-se do Pe. Jorge para animar e coordenar o Renovamento Carismático em Coimbra, onde fundou o grupo “Caminho Novo” que, em metamorfose de vida nova, se vai transformar na Comunidade Emmanuel. Actualmente é Arcipreste em Cantanhede e pároco de Febres e de Vilmar. Os caminhos do Senhor são misteriosos e insondáveis!

Como nota conclusiva a esta reportagem: todos os seminaristas que participaram naquela Assembleia do 1º aniversário do Renovamento Carismático, na Quinta do Almegue, e os que depois se vieram juntar a eles foram ordenados sacerdotes e estão a trabalhar activa e generosamente na Diocese, à excepção do Mário que Deus chamou para Si no vigor da juventude. E concluimos este capítulo de Coimbra, com a frase bíblica com que abrimos este apontamento:

“Eis que vou realizar uma obra nova. Já desponta, não a vedes? No deserto traçarei uma estrada e rios brotarão na solidão!” (Is 43,18-19)

P.e José da Lapa
Missionário do Espírito Santo