TESTEMUNHOS DOS PIONEIROS

O testemunho de Patti Gallagher

Patricia Gallagher (mais conhecida por Patti) foi criada num lar católico e, quando chegou a altura de ir para a universidade, resolveu escolher uma universidade católica onde pudesse estudar teologia e relacionar-se com outros jovens católicos, tendo acabado por receber uma bolsa de estudo para a Universidade do Espírito Santo de Duquesne, em Pittsburgh.

1 – “Dei-lhes a conhecer o Teu nome e dá-lo-ei a conhecer, para que o amor com que me amaste esteja neles e Eu esteja neles também” (Lc 17, 26)

Patricia Gallagher (mais conhecida por Patti) foi criada num lar católico e, quando chegou a altura de ir para a universidade, resolveu escolher uma universidade católica onde pudesse estudar teologia e relacionar-se com outros jovens católicos, tendo acabado por receber uma bolsa de estudo para a Universidade do Espírito Santo de Duquesne, em Pittsburgh.

Sentindo dentro de si um desejo enorme de conhecer a Deus de uma maneira mais profunda, inscreveu-se na associação Chi Rho, tendo começado a tomar parte nas actividades desenvolvidas, actividades que incluiam sempre um retiro na Quaresma. Era a primeira vez que ía a um retiro e, se por um lado se sentia atraída pela perspectiva de poder aprender a amar a Deus mais e melhor, por outro lado tinha medo do que Deus lhe pudesse pedir, embora achasse que isto de Deus pedir era só para pessoas muito especiais. A leitura de “A Cruz e o Punhal”, aconselhada a todos os participantes no retiro, impressionara-a profundamente e também ela desejava ser guiada pessoalmente pelo Senhor. E, ajoelhada no seu quarto, rezou assim: “Senhor, eu acredito que já recebi o Espírito Santo no Baptismo e no Crisma mas se o Teu Espírito pode operar melhor na minha vida, então eu quero receber o Espírito Santo”.

Estavam programadas quatro palestras para o retiro, cada uma sobre um dos quatro primeiros capítulos dos Actos dos Apóstolos. O tema da segunda palestra seria “O senhorio de Jesus e a efusão do Espírito Santo”. Patti não reagiu muito bem quando soube que esta palestra iria ser feita por Flo Dodge, uma senhora que ninguém conhecia, e a sua decepção aumentou quando a senhora iniciou a intervenção dizendo que não sabia bem o que dizer mas que, em oração, tinha pedido ao Espírito Santo para a conduzir. E Patti pensou: ” Que falta de consideração não ter preparado a palestra antecipadamente!” Depois, quando Patti a ouviu dizer que conhecia Jesus Cristo pessoalmente, pensou que ela estava a falar em sentido figurado, e voltou a não acreditar quando a conferencista disse que também nos dias de hoje as pessoas podiam experimentar o poder do Espírito Santo nas suas vidas.

No entanto, à medida que a conferência progredia, foi-se sentindo a acção de Deus e, antes do final, já Patti, ansiosamente rendida, escreveu no bloco de apontamentos: “Jesus, torna-te vivo para mim!”

2 – “Eis que vos enviarei o Prometido de meu Pai. Por isso, permanecei na cidade até serdes revestidos da força do Alto” (Lc 24, 49)

À palestra seguiram-se pequenos grupos de partilha e os alunos interrogavam-se: por que razão ouvimos falar tanto em receber Jesus e o Espírito Santo se já Os recebemos no Baptismo e no Crisma? O professor conselheiro que ficou no grupo da Patti respondeu que era preciso reactivar aquilo que já lhes tinha sido dado nos sacramentos. E lançou esta pergunta: “Quem é Jesus na vossa vida?” Foi como se ela tivesse recebido uma pedrada. Afinal, embora conhecesse e amasse Jesus e quizesse conhecê-l’O ainda melhor, Jesus não estava no centro da sua vida. E decidiu que chegara o momento de pôr Jesus no lugar que lhe era devido. Outra pergunta do professor: “Estão preparados para o que o Espírito Santo vos possa fazer?” Patti apontou no bloco: “Estou mas tenho medo”. E mais tarde acrescentou: “Quero um milagre!” A terceira pergunta do professor ficou sem resposta: “Estão prontos para fazer o papel de tolos?”

Um jovem do grupo chamado David sugeriu que, do mesmo modo que as promessas baptismais são renovadas na vigília pascal, talvez pudessem encerrar o retiro com uma cerimónia em que renovassem o Crisma. A esta proposta apenas aderiu a Patti.

Para a noite daquele sábado estava programada uma pequena festa de aniversário mas, um pouco antes, faltou a água e não era possível encontrar um canalizador, o que pôs em risco a continuação do retiro. Alguns alunos foram para a capela rezar para que a água voltasse, caso contrário não havia condições para ali permanecerem. Na Sagrada Escritura a água é um dos símbolos do Espírito Santo e por isso, quando a água voltou, os estudantes sentiram que a vontade de Deus era que eles ali continuassem.

3 – “Mas, como está escrito, são coisas que nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais passou pelo pensamento do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam”(1Co 2, 9)

Uma vez regularizado o abastecimento de água, Patti foi pela casa tentando reunir os estudantes para a tal festa e foi também à capela chamar quem lá estivesse. Logo que se ajoelhou em frente do Santíssimo, todo o seu corpo começou a tremer e ela sentiu-se como que mergulhada no imenso mar do amor santo e majestoso de Nosso Senhor. Pela primeira vez, sentiu a graça do verdadeiro encontro pessoal com Jesus vivo e ressuscitado. Totalmente seduzida e sem qualquer reserva, fez-Lhe a entrega incondicional da sua vida: ” Pai, o que quer que seja a Tua vontade, essa será a minha escolha, mesmo que isso signifique sofrimento. Ensina-me a seguir Teu filho Jesus e a amar como Ele ama”. Sem saber como, viu-se prostrada, com o rosto no chão e sem sapatos, tal como Moisés diante da sarça ardente, e o amor misericordioso de Deus sempre a inundá-la.

Ali permaneceu a rezar e, apesar de lhe apetecer continuar a gozar a beleza e a doçura daquela presença plenificante, apetecia-lhe também sair do cenáculo e ir partilhar com os outros esta experiência do Deus vivo que se lhe revelara. Foi ter com o capelão, a quem relatou o que acabara de lhe acontecer, e ele contou-lhe que, uma hora antes, o David tinha vivido uma experiência semelhante também na capela. Perante a admiração de Patti por ter sido escolhida pelo Senhor, ela que era uma pessoa tão insignificante, o capelão lembrou-lhe a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém montado num burrinho e também que Deus elege sempre os que menos são. E Patti pensou que, para se manifestar naquele momento, Deus a tinha eleito, assim como ao David, precisamente os dois alunos que tinham concordado em renovar o Crisma, mesmo que mais ninguém quisesse.

No regresso para a capela, Patti encontrou duas raparigas que lhe perguntaram o que é que lhe tinha acontecido porque estava com uma cara diferente, brilhante. A sua resposta foi imediata, ela que ainda muito recentemente tinha medo de falar de Jesus: “Acontece que acabo de experimentar pessoalmente tudo aquilo de que temos estado a falar durante este fim de semana. Venham comigo!” Entraram na capela, Patti começou a rezar em voz alta pedindo a vinda do Espírito Santo, mais alunos foram entrando e uma série de coisas de Deus foram acontecendo no meio daqueles universitários: rezavam, cantavam, choravam de alegria, sentiam um queimar de fogo a subir pelos braços e sons desconhecidos a saírem da garganta. O amor de Deus era tão intenso que perderam a noção que o tempo tem na terra e permaneceram na capela a rezar até que, de madrugada, foram mandados para a cama.

Patti, transbordante de deslumbramento pelo que Deus tinha feito nela e nos seus amigos, não conseguia pegar no sono. Abriu o livrinho de orações a esmo e eis o Magnificat. A partir de então, este belo hino de louvor passou a ser, também, a sua canção de louvor, que faz questão de rezar diariamente e em todas as palestras.

4 – “Os meus planos não são os vossos planos, os vossos caminhos não são os Meus caminhos”(Is 55,8)

No dia seguinte, Flo Dodge voltou à casa de retiros e Patti abraçou-a com gratidão, sentindo nela não mais a estranha, mas a irmã em Cristo cujas palestra e orações tanto tinham ajudado àquele Pentecostes na capela.

De volta à universidade, Patti foi percebendo que estava a descobrir veredas novas que davam todo o sentido à sua caminhada e poderosos cambiantes à sua prática cristã: a certeza de Jesus Cristo no centro da sua vida e do Espírito Santo a actuar suscitando o surgimento de dons espirituais, a fluência da oração espontânea, a força da adoração e do louvor, uma alegre ansiedade que a fazia querer partilhar tudo isto em comunidade e sair para o mundo a proclamar. Cada dia era um dia com novas descobertas a respeito do Senhor e, onde quer que estivesse, sentia-se a possuir Deus e a ser por Ele possuída. Sobre o espaço privilegiado que a Bíblia passou a ocupar na sua vida, Patti diz assim: “Uma das coisas mais surpreendentes que aconteceu comigo logo depois do fim de semana foi que o Espírito Santo começou a ensinar-me directamente, quase sempre através das Sagradas Escrituras. Aproximei-me do Senhor como uma criança carente de instrução e Ele se revelou para mim”.

Tendo sentido (e Deus confirmou-o rapidamente com palavras de profecia) que a sua vida tinha que dar prioridade à obra directa da evangelização, Patti deixou que o Senhor a usasse como testemunha: na família, entre os amigos, no campus universitário de Duquesne e também noutras universidades. Mas à medida que os dias passavam, muitos olhares de desconfiança começaram a surgir à sua volta, não só da parte de familiares e amigos íntimos, mas também de professores e dos próprios padres da universidade. Então Patti decidiu pesquisar todas as referências ao Espírito Santo e carismas nos documentos do Concílio Vaticano II e encontrou frequentes passagens que a encorajavam a seguir em frente porque neles a Igreja estava a dizer-lhe que a sua experiência do Espírito Santo era válida.

No domingo de Pentecostes desse ano (14 de Maio de 1967) uma profecia que o Senhor pôs no coração da Patti veio tornar clara a Sua vontade:” O meu Espírito é para todos os homens. Eu prometi, eu darei. Abri os vossos olhos, os vossos corações e as vossas mãos e levantem-nas para mim”. Deus queria que o testemunho da majestosa movimentação do Espírito Santo vivenciada naquele retiro de fim de semana trouxesse mais homens e mulheres para o Seu serviço, cristãos verdadeiros que acolhessem Jesus Cristo e Lhe entregassem as suas vidas com uma disponibilidade total para que Ele nelas pudesse viver .

5 – “Envio-vos como cordeiros para o meio de lobos”(Lc 10, 3)

O fim do ano escolar aproximava-se e Patti e os outros continuaram a experimentar o peso da condição de discípulos. A dose de sofrimento e de rejeição ia aumentando. Mas a palavra do Senhor vinha constantemente mostrar-lhes o caminho: “Eis que nós deixamos tudo e Te seguimos” (Marcos 10, 28-29); “Deixa que os mortos enterrem os mortos; tu, porém, vai anunciar o reino de Deus” (Lucas 9, 57-62); “Erguei os olhos e vede: os campos estão prontos para a ceifa” (João 4, 35). Em profecia, o Senhor continuava a dizer-lhe: “Confia em mim. Se confiares, todas as promessas serão cumpridas. Escuta a minha voz. Entrega-te totalmente ao meu amor. Sê constante na oração. Persiste e viverás na minha força. Não te assustes se as pessoas te odiarem por causa das coisas novas que eu farei em ti. Conhece-me. Conhece-me. Conhece-me.”

Acompanhada por outros jovens que também tinham recebido a efusão do Espírito Santo, Patti passou as férias de Verão a evangelizar: primeiro, junto dos rapazes e raparigas que viviam nas ruas em Mont Vernon (Nova Iorque) e, na parte final, em várias universidades. A acção do Espírito Santo continuou a trabalhar nela através de profecias, encontros com determinadas pessoas e acasos que não eram acasos, e o Senhor foi acentuando sempre mais e mais a sua convocação para ser apóstola, realizando nela e através dela maravilhas de graças. Patti estudou para ser professora de Francês mas nunca praticou. Depois de licenciada, continuou a empenhar-se totalmente no ministério religioso e, em 1971, começou a trabalhar a tempo inteiro para o Renovamento Carismático, nessa altura em fase de explosão de crescimento. No ano de 1973, durante a Conferência Nacional Católica Carismática nos E.U.A., o Senhor lançou uma profecia a todos os presentes: ” O que vedes diante dos olhos é somente o começo”.

6 – “Deleita-te no Senhor e Ele realizará os desejos do teu coração” (Sl 37,4)

Para Patti, mais uma das grandes graças da sua vida pessoal foi o casamento com Al Mansfield. Durante anos pediu ao Senhor que lhe desse um marido cheio do Espírito, o Senhor prometeu-lho e cumpriu a promessa. Casada e com quatro filhos, viajou por todo o mundo a testemunhar, juntamente com Al, a acção grandiosa e contínua do derramamento do Espírito Santo sobre a humanidade. Hoje continua a servir a Igreja Católica através do Renovamento Carismático. Toda a família e a maior parte dos amigos receberam a efusão do Espírito Santo, fogo do Pentecostes e nova lei para o coração de todos os homens e mulheres que querem seguir a Cristo, conforme nos diz S. Paulo na primeira carta que escreveu aos Tessalonicenses: “Não extingais o Espírito, não desprezeis as profecias e retende tudo o que for bom(1 Tes 5, 19).

Isabel Moraes Marques

O testemunho de David 

David Mangan nasceu e foi educado no seio de uma boa família católica. Desde muito pequeno, sentiu o amor real de Deus na sua vida e era-lhe inconcebível a ideia de que alguém pudesse viver afastado de Jesus Cristo.

“Confia no Senhor de todo o teu coração e não te fies na tua própria inteligência. Reconhece-O em todos os teus caminhos e Ele endireitará as tuas veredas” (Pr 3, 5-6)

David Mangan nasceu e foi educado no seio de uma boa família católica. Desde muito pequeno, sentiu o amor real de Deus na sua vida e era-lhe inconcebível a ideia de que alguém pudesse viver afastado de Jesus Cristo. Em 1966 licenciou-se em Matemática e Física pela Universidade de Duquesne. Tinha então vinte e um anos e era catequista e um dos membros mais activos na sua paróquia.

Quando se planeou o retiro de 17, 18 e 19 de Fevereiro de 1967, David foi convidado para fazer a primeira de uma série de quatro palestras sobre o Espírito Santo. No entanto, houve duas razões que o levaram a declinar o convite: não só considerava que sabia muito pouco sobre o Espírito Santo, como também tinha sérias dúvidas sobre o modo como o Espírito actuava. A leitura do livro de David Wilkerson “A Cruz e o Punhal”, recomendada a todos os que íam participar no retiro, deixara-o algo confuso, sobretudo o dom de línguas, mas fê-lo perceber que o poder de Deus estava ausente da sua vida. Portanto, David foi para o retiro predisposto a aprender mais sobre o Espírito Santo e a deixar que Deus fizesse nele o que tivesse de ser feito.

“Aquele que nos fortalece convosco em Cristo e nos dá a unção é Deus, que nos marcou com o Seu selo e colocou nos nossos corações o penhor do Espírito” ( 2 Cor 1, 22-23)

Estavam previstas quatro palestras para o retiro, uma sobre cada um dos quatro primeiros capítulos dos Actos dos Apóstolos. A primeira e a segunda tocaram-no especialmente. Na primeira, pelas considerações que o conferencista (Paul Gray) teceu à volta do oitavo versículo: “Mas ides receber um poder, o do Espírito Santo, que descerá sobre vós (Act 1, 8a). Paul explicou que a palavra grega para “poder” é a mesma que a língua inglesa usa para “dinamite” e David percebeu que, apesar de ter levado toda uma vida de católico comprometido, dificilmente poderia dizer que a sua vida de fé tinha o poder do dinamite. Então perguntou a si próprio: ” Será que o Espírito Santo é realmente assim tão poderoso?” Na segunda palestra, Flo Dodge, a conferencista, leu o segundo capítulo do livro dos Actos e afirmou, com a convicção de quem já tinha experimentado, ” isto tudo está a acontecer nos dias de hoje”. Insistiu na importância da oração, da fé expectante e da abertura ao dom de línguas. David, como que em desafio, fez duas anotações no seu bloco de apontamentos pessoais: “Quero ouvir alguém a falar em línguas…EU” e “Tenho que ser um tolo para o Senhor”. Mal ele sabia que, muito em breve, estas duas coisas iriam mesmo acontecer.

Depois desta segunda palestra, formaram-se grupos de partilha. David continuava a não compreender por que razão a sua vida espiritual não tinha o poder do dinamite, ele que tinha recebido o Espírito Santo no Baptismo e na Confirmação. Por força da sua formação académica, David estava treinado a raciocionar matematicamente, sendo por isso muito analítico. Então, deteve-se a pensar sobre os sacramentos e a sua eficácia. Sabia que a maior ou menor abundância da graça depende das disposições da pessoa que recebe o sacramento e, relembrando o dia da sua Confirmação (era ainda muito criança), constatou que a sua grande preocupação tinha sido saber que prenda iria receber do padrinho. Portanto, concluiu que, agora já adulto, era-lhe necessário renovar a Confirmação para poder receber a plenitude do Espírito. Fez esta proposta aos colegas do grupo mas estes acharam que ele estava a tomar as coisas demasiado a sério. Só a Patti aceitou a sua sugestão. E foram os dois dar uma volta pelos jardins enquanto conversavam sobre o assunto.

“Homem fraco na fé, porque duvidaste?” (Mt 14, 31)

No final da tarde, houve um problema com a bomba de água que servia a casa onde se encontravam, a água começou a faltar e, caso o abastecimento não fosse restabelecido, teriam que abandonar o edifício. “Não podemos fazer nada!”, diziam uns para os outros. Então, um dos professores conselheiros sugeriu que fossem para a capela rezar para que a água viesse. Rezaram durante bastante tempo e, a certa altura, sem saber como e em voz alta, David começou a agradecer a Deus por aquela água. Foi a primeira vez que isto aconteceu na sua vida: agradecer a Deus antecipadamente pela Sua resposta. Só mais tarde aprenderia, no Renovamento Carismático, que é assim mesmo que devemos fazer. Continuou a louvar e a dar graças não só por aquela água que o Senhor acabara de providenciar, mas por todas as águas que existem na terra: regatos, cascatas, fontes, oceanos, chuvas, lagos.

Quando a oração acabou, desceu à cozinha, abriu uma torneira e a água jorrou mais forte do que anteriormente. Exclamou baixinho: “Claro que há água!” E depois de o anunciar aos outros, decidiu que tinha que voltar à capela para agradecer ao Senhor. Logo que entrou, uma força poderosa fê-lo prostrar-se e desatou a chorar como nunca antes lhe acontecera porque era um choro muito forte e sem lágrimas. “A presença de Senhor era tão evidente que se podia esculpir com uma faca”, disse . E pensou no tal dinamite.

“O Todo Poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o Seu nome” (Lc 1, 49)

Saíu da capela a cambalear e, meio zonzo, começou a descer ao andar de baixo porque estava na altura de começar uma breve vigília bíblica, a que se seguiria uma pequena festa para celebrar o aniversário de vários participantes, incluindo o do seu irmão Tom, que todos conheciam muito bem mas que se encontrava em serviço no Peace Corps na Turquia.

Enquanto descia, ía dizendo para si mesmo: “David, os matemáticos não se descontrolam desta maneira. Será que isto foi mesmo real? Tu não és emotivo, não te deixas convencer com facilidade, também habitualmente não choras. Nada disto parece teu. Vamos ver se volta a acontecer.” Entrou de novo na capela e voltou a ir de cara ao chão, com os braços abertos em cruz. A sensação do amor de Deus era de tal modo avassaladora que David começou a rezar sem pensar nas palavras que dizia. Jesus estava ali, vivo e ressuscitado, e David sentia-O junto a si.

Continuou a rezar por uns instantes, saíu, a dúvida voltou a surgir, entrou na capela e tudo se repetiu. Entretanto, David viu que alguém tinha entrado na capela e estava ali a rezar. Olhou, era uma das alunas. David, sem poder conter a enorme felicidade que sentia, disse-lhe: “Amo-te muito!” e pediu-lhe que lesse qualquer coisa na Bíblia. Ouvindo a rapariga ler, teve um encontro com Cristo ainda mais forte do que o anterior. Quando tentou falar com outros colegas que entretanto tinham chegado, percebeu que só lhe saíam sons esquisitos que ninguém entendia. Invadia-o um sentimento muito forte do amor de Deus e ali se deixou ficar naquela amena inquietude, naquele gozo e naquela certeza de que o Espírito Santo tinha descido sobre si. O tempo passou e quando, profundamente em paz, conseguiu falar, só foi capaz de dizer: “Isto é a verdade que eu vim procurar”.

Dormiu muito pouco nessa noite mas, ao acordar, estava tão repousado como se tivesse dormido longas horas. Era domingo e, conforme programado, houve uma terceira palestra. No momento de oração que se seguiu, David voltou a encontrar-se pessoalmente com Deus. O Senhor tinha verdadeiramente tomado conta de si, conhecia as suas necessidades e tinha-lhe mostrado quão fraca era a sua fé.

Descobriu que a maior parte do presentes tinha também recebido o Espírito Santo. Nessa experiência notável Deus revelara-se-lhes duma maneira totalmente nova, dando uma outra dimensão à sua vida de cristãos.

“Felizes sois se sofreis injúrias por causa do nome de Cristo, porque o Espírito de glória, o Espírito de Deus repousa sobre vós” (1 Ped 4, 14)

Terminado o fim de semana, David começou a passar pelas dificuldades e incompreensões que se geraram à volta dos que tinham, então, recebido a efusão do Espírito. Naquela época, era muito impopular ser “carismático” e, por isso, David era constantemente importunado com situações e perguntas desafiadoras que tentavam pôr em causa a credibilidade daquela experiência pentecostal que ele tinha vivido, bem como a sua permanência pessoal na Igreja. Mas, quanto mais difíceis eram as situações, maior era a força com que Deus pegava na sua mão para o guiar, assim como era cada vez maior a gratidão que sentia pela Igreja Católica. Fora no seio da Igreja Católica que David não só tinha conhecido, desde criança, o amor de Deus, como também experienciara a Sua presença real e o poder do Seu Espírito.

Quando David compreendeu, com toda a certeza, que era na Igreja Católica que o Senhor queria que ele continuasse a caminhar, teve a plena consciência de que só nesta altura se tinha tornado um católico adulto, e a partir daí assumiu-se verdadeiramente um soldado de Cristo, capacitado para toda uma vida de oração e de serviço. Depois de passar por uma fase de fascínio pelos dons do Senhor, passou à fase de total fascínio pelo Senhor dos dons. Não mais se deixou intimidar pelas opiniões dos outros e a sua única preocupação passou a ser a obediência à vontade divina.

Sobre o seu crescimento na aceitação da vontade de Deus, David conta o episódio que se segue. Era necessário escolher um novo coordenador para o grupo de oração, pelo que entraram num tempo de oração e de jejum. Durante a oração, David sentiu que o Senhor lhe dizia: “És tu”. David respondeu: “Senhor, nem penses nisso. Não imaginas como sou ignorante e imaturo”. Mas, porque o Senhor voltou a dizer: “És tu”, David ouviu o seu coração responder: “Senhor, se Tu quiseres que isso aconteça, a bola está no Teu campo e a jogada é Tua”. Quando, mais tarde, o grupo de oração veio partilhar o discernimento que tinham estado a fazer, apontaram para ele e disseram: ” Deus quer que o David seja o nosso novo coordenador”. E David aceitou, por ser a vontade de Deus.

“Ouvi uma voz forte que, do trono, dizia: “Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com eles, eles serão o Seu povo e Ele, Deus com eles, será o seu Deus”(Ap 21, 3)

Olhando para trás, David guarda aquele fim de semana como um tesouro precioso que jamais teria alcançado sem a acção do divino Espírito Santo e a partir do qual toda a sua vida se transformou. Convicto de que “os velhos tempos felizes que não voltam mais” são os dias de hoje, porque o Espírito continua a actuar como então, vive cada vez mais na certeza de que o Renovamento Carismático Católico é um instrumento privilegiado que Deus inspirou para construirmos, com Ele, um povo que produza abundantes frutos, que O ame e que se ame. Assim o Reino crescerá até atingir a plenitude no final dos tempos, quando Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, tudo entregar ao Pai, a fim de que Deus seja tudo em todos (cf. 1 Cor 15, 24-28).

Isabel Moraes Marques

O testemunho de Maryann Springel e Paul Gray

A Sociedade Chi Rho estava a atravessar um momento difícil: muitos dos seus membros queriam deixar a Igreja Católica e outros já tinham mesmo começado a voltar as costas para Deus.

“Cria em mim, ó Deus, um coração puro; renova e dá firmeza ao meu espírito. Não me afastes da Tua presença, nem me prives do Teu Santo Espírito”(Sl 51, 12-13)

A Sociedade Chi Rho estava a atravessar um momento difícil: muitos dos seus membros queriam deixar a Igreja Católica e outros já tinham mesmo começado a voltar as costas para Deus. Por isso, um grupo de alunos mais preocupados queria que o retiro quaresmal daquele ano de 1967 fosse programado com um cuidado acrescido. Maryann Springel e Paul Gray, que estavam noivos, pertenciam a este grupo.

Houve uma reunião para organizar o retiro e, por sugestão dos dois professores conselheiros da Chi Rho, o tema anteriormente definido (“O Sermão da Montanha e as Bem Aventuranças”) foi alterado para “Os Actos dos Apóstolos”. Paul ficou encarregue de fazer o primeiro ensinamento, que seria sobre o primeiro capítulo dos Actos, na manhã de sábado, e a Maryann coube o terceiro ensinamento, sobre o terceiro capítulo, no domingo, também de manhã.

“Que a vossa fé não se baseie sobre a sabedoria dos homens mas sobre o poder de Deus” (1 Cor 2, 5) 

Após a reunião, Paul, que já tinha acabado o curso de Teologia em Duquesne, partiu para Nova Iorque, onde ia começar um mestrado em Teologia na Universidade de Fordham. Logo que chegou, começou a preparar o ensinamento e, durante as três semanas que o separavam do início do retiro, ocupou integralmente o seu tempo a consultar a imensa bibliografia disponível e a fazer pesquisas, tendo recolhido um tal volume de informações que não teve tempo para as organizar para o ensinamento.

Assim, quando chegou a Pittsburgh para o retiro, sentia-se duplamente ansioso: por um lado, o prazer de reencontrar a noiva e os amigos da Chi Rho; por outro, a insegurança de não ter preparado devidamente a palestra. Os nervos foram-se acastelando de tal maneira que, ao pequeno almoço de sábado, não conseguiu comer nada. E quando ocupou o seu lugar na sala de conferências, sentiu-se totalmente incapaz de coordenar as ideias. 

Conforme combinado, o “Veni, Creator Spiritus” marcou o início daquela e de todas as outras conferências. À medida que os presentes entoavam o hino, Paul passou por uma experiência extraordinária: uma serenidade crescente foi substituindo a insegurança, as mãos foram aquecendo e, quando o cântico terminou, começou logo a falar. E Paul surpreendeu-se a si próprio, não só porque as ideias se foram desenvolvendo com toda a calma e coerência, mas sobretudo porque disse coisas de que nunca tinha ouvido falar e que não constavam dos seus apontamentos. Quando acabou, teve a certeza de que não merecia os elogios que lhe deram pela qualidade do ensinamento; o mérito era totalmente de Jesus. Porque a sabedoria quer sempre deixar-se encontrar por aqueles que a buscam com sinceridade de coração (cf. Sb 1, 1-2).

“Digo-vos ainda: se dois de entre vós se unirem na terra para pedir qualquer coisa, hão-de obtê-la de meu Pai que está no céu”(Mt 18, 19)

Maryann e Paul já tinham ouvido falar da efusão do Espírito Santo num serão em casa de amigos da universidade, onde também se encontrava um dos professores conselheiros da Chi Rho (este professor era Ralph Keifer, que também estava no retiro). Quando, no segundo ensinamento de sábado, a conferencista falou sobre o Pentecostes e os dons carismáticos como ocorrências que ela própria já tinha experimentado na sua vida, os dois noivos sentiram uma profunda vontade de também eles receberem essa graça. Enquanto esperavam pela hora de jantar, foram pedir a Ralph Keifer que orasse por eles. Subiram ao primeiro andar e ali, num quarto cheio de sacos-cama e de pijamas, ajoelharam-se e o professor, impondo as mãos sobre as suas cabeças, começou a rezar, primeiro em inglês e, depois, numa língua que nunca tinham ouvido.

Maryann e Paul entregaram as suas vidas a Jesus e o Senhor enviou-lhes o Seu Espírito. Totalmente mergulhados no amor de Deus, Jesus vivo e ressuscitado estava ali presente, era quase possível tocá-l’O. Maryann sentiu-se como se tivesse dentro de si um balão que se enchia e a enchia de uma alegria tão grande que lhe explodia na garganta, fazendo-a sorrir para Jesus e entrar num louvor contínuo; Paul, sentindo a lingua a mover-se para cima e para baixo e a produzir uns barulhinhos estranhos, começou a ceder a esta nova linguagem, isto é, abriu-se ao dom de línguas. Cheios do Espírito, voltaram para o grupo, mas não contaram nada sobre o que lhes tinha acontecido.

“Se me tendes amor, cumprireis os meus mandamentos e eu rogarei ao Pai e Ele vos dará um outro Paráclito, para que fique eternamente convosco” (Jo 14, 15-16)

Já depois do jantar, Maryann e Paul estavam a sair da capela, onde tinham estado a rezar, quando viram o David entrar e cair de cara no chão. Logo a seguir, eles próprios cairam também. Sentiram crescer dentro de si um tão grande e santo temor de Deus que não eram capazes de olhar para cima. “Deus estava pessoalmente presente e nós temíamos ser amados de mais”, disse Paul. “Era como se Ele, brilhante e esplendoroso, tivesse entrado na sala e enchesse tudo e todos”. Ao mesmo tempo, o Senhor trouxe-lhes o entendimento completo do episódio da sarça ardente no Horab. E ajoelharam-se em adoração, nada mais existindo para além deles e do Senhor.

Entretanto, mais alunos foram chegando à capela e foram caindo de joelhos, a cantar, a louvar, a chorar, de tal modo era devastadora e magnificente a presença do Senhor. Os professores conselheiros também chegaram e moviam-se entre os alunos, impondo as mãos e pedindo a efusão do Espírito Santo para cada um. Maryann e Paul olhavam-se e olhavam para os outros cheios de uma gloriosa admiração porque todos pareciam transfigurados. E naquele ninho de bem aventuranças, as suas vozes continuavam a subir em clamores: “Jesus, eu amo-te”, “Sim, Pai”, “Meu Deus, meu Deus”. Começaram a ouvir-se orações e cânticos em línguas à medida que o calor aumentava. Maryann e Paul sentiram que se estava a repetir o Pentecostes de Jerusalém e ali ficaram até de madrugada.

“A sabedoria encherá toda a casa com os bens que produz e os celeiros com os seus tesouros” (Ecli 1, 17)

Logo que chegou ao quarto, Maryann só pensou no ensinamento que iria fazer no dia seguinte de manhã. Queria muito impressionar favoravelmente não só os colegas, mas sobretudo o noivo, e a verdade é que ainda não tinha nada pronto, nem nas mãos, nem na cabeça. Pronto apenas estava um bonito vestido que levara horas a escolher, bem como um par de sapatos de salto alto que tencionava usar naquela altura.

Quando acordou, o seu primeiro pensamento foi “Louvado seja o Senhor”; o segundo foi “Ó meu Deus, tenho que fazer o ensinamento”; e começou a vestir-se com um terceiro pensamento: “Tenho que ir bonita para impressionar o Paul”. Olhou, então, para as roupas que tinha usado na véspera e que estavam todas amachucadas dentro da mala. De imediato sentiu os olhos de Deus postos em si, fixando-a, cingindo-a, porque Ele, conhecendo bem a futilidade dos pensamentos humanos, logo foi em seu socorro e põs no seu coração sentenças justas. Amparada pela bondade de Deus, Maryann ouviu-se rogar: “Senhor, não consigo deixar de ser vaidosa e de me preocupar com o que os outros pensam da minha aparência. Senhor, quero ser outra pessoa e é só conTigo que me quero preocupar. É a Ti que quero oferecer o meu ensinamento. É por Ti que vou usar as roupas amachucadas para veres como preciso da Tua ajuda e da Tua misericórdia”. Mal vestida entre as amigas bem vestidas, Maryann foi tomar o pequeno almoço mas sempre muito nervosa porque se aproximava a hora da palestra.

Enquanto cantavam o hino ao Espírito Santo, o medo frio e húmido cedeu lugar a um calor que a inundou totalmente e começou a falar com uma sabedoria que não era a sua. Nesta altura percebeu como a graça a tinha vindo salvar e o Espírito Santo descera sobre ela. Várias vezes foi interrompida por orações e louvores e o longo aplauso no final serviu, não para seu gozo próprio, mas para dar força à vontade que sentia de tudo agradecer Àquele que tudo providenciara. E quando abriu a boca para louvar e dar graças, foi em línguas que falou.

Insondáveis são os caminhos do Senhor e preciosos são os Seus desígnios. Para estes noivos, decerto para se sentirem mais fortalecidos na sua união e na fé que os unia, Deus escolheu actuar de um modo semelhante, isto é, tomando posse deles e pondo nas suas bocas as palavras que tinham que ser ditas.

“Com efeito, Cristo Jesus é a nossa paz. Ele que, dos dois povos, fez um só e destruiu o muro de separação, a inimizade. Porque é por Ele que uns e outros, num só Espírito, temos acesso ao Pai”( Ef 2, 13-14, 18)

Após o retiro, Maryann e Paul sentiram uma profunda transformação na qualidade da sua fé: de um nível intelectual, de saberes aprendidos nos livros e que se contenta com palavras e ideologia, a fé passou para o nível do coração, do concreto, da experiência vivida, esperando pacientemente na certeza dos frutos do Senhor, que sempre lavra e semeia na altura própria.

Regressado a Nova Iorque, Paul encetou uma vasta campanha testemunhal em todos os locais possíveis. A pedido do reverendo Harald Bredsen, o seu relato e experiência do fim de semana de Duquesne estendeu-se também a vários grupos de protestantes, para lhes dar a conhecer o que Deus estava a fazer no âmbito da Igreja Católica. E surpreendeu-se ao constatar o entusiasmo com que estas notícias eram recebidas. Maryann, que ficou em Pittsburgh, começou a aprender sobre reuniões de oração carismáticas e também sobre a vida em comunidade.

Durante o verão, foram fazer uma experiência de vida comunitária na paróquia do reverendo Bredsen em Nova Iorque, juntamente com outros estudantes de Duquesne, onde perceberam, por meio de profecias e de palavras de conhecimento, qual era a vontade do Senhor para ambos: trabalhar numa dimensão ecuménica, restabelecendo a união e a harmonia entre várias igrejas cristãs. O Senhor pedia-lhes que fossem apóstolos dos valores universais do Evangelho, promovendo a unidade pela fonte que é o Espírito Santo. Era o Renovamento Carismático Católico a operar como fermento de reconciliação e profeticamente virado para as questões ecuménicas, que tanto têm feito a diferença no pontificado de João Paulo II.

Maryann e Paul entregaram-se a esta missão e continuam, nos dias de hoje, a sentir o poder e o amor de Deus a actuar, derrubando muralhas, renovando corações, criando paz e unidade entre igrejas de várias denominações. Por esta união rezou Jesus instantemente na oração da última ceia (Jo 17).

Isabel Moraes Marques

Entrevista com Ralph Martin

Em 1972, Ralph Martin foi nomeado director do novo Centro Internacional de Comunicação. Com efeito, a Comissão Católica ao serviço do Renovamento Carismático, em Ann Arbor (Michigan), empregou todos os esforços nesta organização internacional para responder ao número sempre crescente de pedidos de informação ou de conselhos que afluíam do mundo inteiro.

Depois de Setembro último, o Centro Internacional de Comunicação foi transferido de Ann Arbor para Bruxelas. Os responsáveis de Ann Arbor acabaram efectivamente por reconhecer, a propósito de uma sugestão do Cardeal L. T. Suenens, Arcebispo de Malines-Bruxelas, que Bruxelas seria mais conveniente para um centro internacional.

Foi em Fevereiro de 1967, em Pittsburg, na universidade de Duquesne, durante um fim-de-semana de oração, que um pequeno grupo de estudantes fez a experiência da efusão do Espírito. Foi o início do Renovamento Carismático na Igreja Católica.

Em fins de 1971 e princípios de 1972, nasciam em França os primeiros grupos de oração do Renovamento.
Por ocasião deste duplo aniversário, Pierre Goursat, fundador da Comunidade Emanuel, entrevistou Ralph Martin.

Pierre Goursat – Alguns sociólogos afirmam que o Renovamento Carismático Católico atingiu o seu apogeu. O que pensa a este respeito?

Ralph Martin – Creio que pelo contrário, no interior da Igreja, o Renovamento está em pleno crescimento. Um simples facto basta para o provar: no anuário internacional, o número de grupos católicos de oração carismática duplicou depois de um ano. Contam-se em mais de 80 países.

P. G. – Que linhas mestras da orientação do Renovamento nos pode dar, depois das diferentes viagens que efectuou pelo mundo?

UMA MESMA EXPERIÊNCIA VIVIDA NO MUNDO INTEIRO

R.M. – Uma coisa é evidente: é a mesma experiência que é vivida simultaneamente no mundo inteiro. Em Paris ou Durban, em Los Angeles ou em Dakar, o Espírito Santo actua da mesma maneira. É a mesma comunhão profunda que se estabelece através do mundo, e que é então flagrante nos grandes centros internacionais, como Roma.
Em qualquer sítio o Renovamento implica uma conversão à pessoa de Cristo, uma libertação do Espírito na vida de cada um e uma abertura aos dons e aos carismas, vivida numa enorme caridade. Por todo o lado se reconhecem habitualmente estes elementos de base, quer seja em Espanha, no Japão, ou em qualquer outro lugar.
Mas é lógico que, em cada local, o Espírito dê um toque mais personalizado, em função das políticas, das culturas e das mentalidades.

P.G. – A seu ver, que contribuição pode o Renovamento dar ao movimento ecuménico?

R.M. – Eu creio que o Renovamento Carismático tem uma grande contribuição a dar ao movimento ecuménico.
O próprio facto de se desejar a unidade é já um carisma, e o Espírito ajuda-nos a reconhecer o que temos em comum com todos aqueles que defendem o Nome de Cristo e o seguem.

UM ACOLHIMENTO FRATERNAL SEM NEGAR AS DIFERENÇAS

No Renovamento, cristãos de várias denominações trabalham lado a lado pela causa do Evangelho. Sem negar que existem diferenças que os separam e impedem a unidade total, eles acolhem-se mutuamente e amam-se como irmãos no Senhor.

Por outro lado, o Espírito Santo, ao renovar o pensamento dos teólogos, dá-lhes uma real abertura aos outros durante as discussões. A autodefesa desaparece e toma lugar o desejo de compreensão.

UM NÚCLEO DE CRISTÃOS TOTALMENTE EMPENHADOS

P.G. – Em vários países, pessoas totalmente consagradas ao Senhor e aos outros nas comunidades de vida trabalham para o Renovamento, dedicando-lhe inteiramente todo o seu tempo. Que pensa sobre o assunto?

R.M. – Penso que Deus está a formar um núcleo de cristãos empenhados em servir toda a Igreja nas dificuldades futuras. Deus está a fazer surgir um núcleo de fiéis para serem inteiramente seus servidores. É isto que ele realiza hoje parcialmente e que realizará amanhã em larga escala.

P.G. – Qual é, na sua opinião, a missão do Renovamento Carismático na Igreja?

R.M. – É a evangelização. Na sua Exortação sobre o Evangelho, Paulo VI declara que a evangelização de todos os povos constitui “a missão essencial da Igreja”. É a sua razão de ser mais profunda.

UMA NECESSIDADE: OUVIR FALAR DE JESUS CRISTO

As pessoas do mundo inteiro têm os ouvidos cheios de teorias sobre a liberdade, de promessas sobre tudo o que lhes trará a libertação…Eles sentem agora a necessidade de ouvir falar de Jesus Cristo e de ver com os seus próprios olhos comunidades onde jovens e velhos, ricos e pobres vivem juntos de uma nova maneira, por causa d’Ele. Sim, eles necessitam de ver pessoas não tendo “senão um coração e uma alma”, amando-se, cuidando mutuamente uns dos outros.

UMA EVANGELIZAÇÃO COM UMA FORÇA NUNCA IMAGINADA

A Bíblia e os documentos da Igreja repetem-nos bastantes vezes que a Igreja se supõe como sendo uma Comunidade. Infelizmente, a maior parte das vezes isso está no papel, mas não corresponde à realidade.

No Renovamento, o Espírito de Santidade realiza em milhares de pessoas, nas comunidades de vida, aquilo que concretiza a própria natureza da Igreja. Como o Renovamento se torna cada vez mais uma comunidade de pessoas dedicadas ao serviço do Senhor e ao serviço dos outros, a evangelização vai crescer com um poder e uma força muito acima de tudo aquilo que possamos imaginar.

(Cf. Revista “PNEUMA” nº 3 – 1977 –
Comemorativa da 1ª Assembleia Nacional)