As manifestações exteriores dos carismáticos são exuberantes, mas na consagração, são reverentes»

Entrevista com o Padre Francisco Javier Ramires de Nicolás Assistente Espiritual do RCC Espanhol 2024-28

O sacerdote Francisco Javier Ramírez de Nicolás, Javi Ramírez, da diocese de Osma-Soria, é o novo conselheiro do Renovamento Carismático Católico em Espanha (RCCE), substituindo no cargo Eduardo Toraño, sacerdote em Madrid e diretor do Instituto Superior de Ciências Religiosas da Universidade de San Dámaso, cujo período de mandato terminou. O RCC tem cerca de 200 grupos em Espanha. É um movimento de leigos e dirigido por leigos: a função do conselheiro é aconselhar, com voz activa mas sem voto. Mas a sua autoridade moral e espiritual é muito forte. Muitos jovens adultos no Renovamento foram catequistas ou em adolescentes estiveram em acampamentos que Javi Ramírez orientou como capelão. Hoje são jovens pais de família ou responsáveis por grupos e serviços.

– Como conheceu o Renovamento Carismático? – Foi em 2010, num retiro de sacerdotes com o cardeal Raniero Cantalamessa. Fiquei impressionado com a liberdade e a alegria que via nesses sacerdotes. Fiquei espantado com a sua liberdade ao louvar a Deus. Eu já era padre há 12 anos, considerava-me um padre cumpridor, mas faltava-me essa alegria e liberdade e esse retiro foi como um despertar para mim.

– O que faz um conselheiro do Renovamento Carismático?                                                                                  – Sua função é ser Assessor Nacional espiritual, aconselhar a equipe nacional que dirige o Renovamento, que são leigos e que estão servindo alguns anos. O conselheiro vigia a ortodoxia da doutrina, a liturgia adequada, ajuda com discernimento…

– O tema da ortodoxia na liturgia no mundo carismático soa peculiar…                                                            – Quando comecei no Renovamento há 14 anos, tinha medo de que o RCC fosse muito livre na liturgia. Mas a verdade é que em todo este tempo não vi abusos ou coisas estranhas na missa e que exigissem uma correção.          É verdade que as formas externas de alegria dos carismáticos são exuberantes, mas na missa, na consagração, há sempre um silêncio profundo e reverente, é o sacrifício de Cristo, nosso redentor, e esse silêncio de adoração é impressionante. Mas, bem, em qualquer grupo, carismático ou não, podem ocorrer erros ou excessos.

– O Renovamento Carismático aventura-se em alguns territórios de fronteira, como a oração de cura.                                                                                                                                                                              – Na Igreja dizemos que toda Eucaristía é sanadora. E, por outro lado, a Eucaristia não tem a finalidade directa para curar, mas tem o seu próprio fim. No RCC são usados ​​como base de discernimento os documentos de Malines, dos anos 80, do cardeal Suenens e outros teólogos, que trataram do tema. E para mim um livro chave é Jesus Está Vivo, do padre Emiliano Tardiff. Explica com muita prudência espiritual como fazer as coisas Releio de vez em quando como manual.

– Conhecem-no ao Pe Javi muitas pessoas jovens de toda a Espanha…                                                          – É que estive 11 anos a participar em acampamentos com crianças, com o Ministério Nacional das Crianças do Renovamento. Aprendi muito com Javier Gay, sacerdote da diocese de Astorga, e também com as crianças. Eles aprendem a orar com uma visão limpa, a perdoar com verdade, a não guardar rancor, a buscar a alegria em todo momento, a emocionarem-se contemplando o Santíssimo, a brincar divertindo-se muito, a comer com uma canção em qualquer momento…

– E os adolescentes e jovens… – Com os adolescentes também cresci como sacerdote e confessor. É uma vida que começa, muito frágil, mas já com feridas profundas, feridas que nunca foram contadas e as põem nas tuas mãos. Entrei nas redes sociais por eles, para enviar mensagens por privados ou menssengers. De Osma-Soria tive uma vertente pastoral virtual como pastor, por redes. Um monitor chamava-nos e dizia: “reza por mim”, e rezávamos ali mesmo, ao telefone, carismáticamente, com essa liberdade.

– Como está o tema da conversão pastoral na zona rural de Castela?  – Está por desenvolver. Quando se começou na Terra de Campos, a gente dizia “para preparar um campo, primeiro é preciso passar os vertedores, as lâminas gordas”. Aí estamos, nessa fase inicial de passar pelos vertedores. Nas paróquias sonha-se com a cristandade, mas na realidade quase não há jovens. Faz-se o rito da confirmação, da comunhão e segue-se o adeus. Em Soria, se vires um jovem ajoelhado na missa, ou uma família completa na Eucaristia, você pode apostar 100% como nenhum é de Soria. Falta a pastoral de base.

– O que fazer, então?   – Há que experimentar coisas novas, fazendo retiros, mas também acompanhar o discipulado. Eu, na paróquia, tenho o Projeto Amor Conjugal, e Retiros de Emaús, de homens e de mulheres. Tudo isso é bom, mas sem discipulado não basta. E há 2 anos que organizo seminários de Vida no Espírito para sacerdotes, mas quem os acompanha? Tudo o que leva a um impacto é bom, mas agora a chave é que possamos oferecer discípulado.

– Você teve responsabilidades na Cáritas…  – Estive 8 anos na Cáritas Diocesana de Osma-Soria, 6 como diretor e 2 como delegado. Essa é a relação com os pobres. Além disso, na minha paróquia temos uma ermida cedida aos ortodoxos romanos, ou seja, fazemos o ecumenismo. O Papa Francisco pediu à Renovação Carismática três coisas: evangelizar com o Seminário de Vida no Espírito, atender os pobres e periféricos, e fazer o ecumenismo com outros cristãos. Você vê que estou fazendo esses três.

– Mas no Renovamento tradicionalmente se evitou criar estruturas de caridade, distribuidores de comida, ONGs, etc…  – O RCC não cria ministérios assim, mas os fiéis que fazem parte de um grupo da RCC em paróquias colaboram com a Cáritas paroquial e a partir da paroquia podem servir os pobres. A realidade é que a Cáritas é muito pouco diretiva, dá muita liberdade para actuar a nível paroquial, dá espaço para a tua criatividade e iniciativa. João Paulo II pediu fantasia e imaginação para a caridade. Se numa paróquia há pessoas criativas, com iniciativa, e ainda mais ungidas com carismas do Espírito, podem fazer-se maravilhas, também pelos pobres.

– O Renovamento continua organizando retiros para sacerdotes?  – Sim, este verão somos 102 sacerdotes no retiro, com cinco dias completos de exercícios espirituais, com um louvor permanente, adoração de uma maneira nova, com unção.

– Mas vai haver contraste com o retorno a Soria, ou de cada um ao seu povoado, não?  – Os de Soria e de algumas províncias à volta reunem-se uma vez ao mês. Conversamos, confessamo-nos, oramos uns pelos outros, com humildade, algo que nos oferecem a nós, irmãos sacerdotes,  com muito carinho. E voltamos renovados à paróquia. Algo assim pode reconstruir vidas sacerdotais.

 – Você participou no curso para sacerdotes Pastores Gregis.   – Fi-lo há uns dois anos. Éramos uns 30 padres. Aprendi muitíssimo em Pastores Gregis, também a nível prático, e recomendo-o a todos os padres. É uma visão pastoral no Espírito Santo. Na tua paróquia há que manter o que há que manter, mas também há muito para se transformar, e não o faz o padre só, mas com uma equipe de evangelização.  Minha paróquia entrou na Rede de Paróquias Renovadas, que fornece matéria e ajuda para dar passos firmes. Se você procura aplicar essas letras do ABCDE: A de adoração, a vida de oração; B de ‘bela comunidade’, vida comunitária; C de caridade e atenção ao pobre; D de discipulado e E de evangelização, em saída. Com essas 5 coisas transforma a paróquia. E você tem que ter clara a visão e a missão da sua paróquia, seus valores, estratégias. E aprender algumas ferramentas e conhecer as suas forças.

– O que é na realidade o discipulado?  – É aprender a ser discípulo, e ser discípulo é viver constantemente enamorado do Mestre, seu senhor, olhar atento às suas insinuações, atender à sua ternura, viver plenamente enamorado. Se está apaixonado, irá mais à missa, irá mais à confissão, se formará mais, seu coração te pedirá para servir aos pobres. O teu Mestre te dará sinais, sobre tudo através da comunidade, dos teus irmãos. O discipulado é algo que dura toda a vida.

Ler a entrevista em   https://www.religionenlibertad.com/espana/959564419/formas-externas-carismaticos-llamativas-consagracion-reverentes-javier-ramirez.html

Tradução do espanhol de Pneumavita