Unindo-se a Cristo, o povo da nova aliança não se fecha em si mesmo; pelo contrário, torna-se «sacramento» para a humanidade,1 sinal e instrumento da salvação realizada por Cristo, luz do mundo e sal da terra (cf. Mt 5, 13-16) para a redenção de todos.2 A missão da Igreja está em continuidade com a de Cristo: «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós» (Jo 20,21). Por isso, a Igreja tira a força espiritual de que necessita para levar a cabo a sua missão da perpetuação do sacrifício da cruz na Eucaristia e da comunhão do corpo e sangue de Cristo. Deste modo, a Eucaristia apresenta-se como fonte e simultaneamente vértice de toda a evangelização, porque o seu fim é a comunhão dos homens com Cristo e, n ‘Ele, com o Pai e com o Espírito Santo.3
Pela comunhão eucarística, a Igreja é consolidada igualmente na sua unidade de corpo de Cristo. A este efeito unificador que tem a participação no banquete eucarístico, alude S. Paulo quando diz aos Coríntios: «O pão que partimos não é a comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos participamos do mesmo pão» (1 Cor 10, 16-17). Concreto e profundo, S.João Crisóstomo comenta: «Com efeito, o que é o pão? É o corpo de Cristo. E em que se transformam aqueles que o recebem? No corpo de Cristo; não muitos corpos, mas um só corpo. De facto, tal como o pão é um só apesar de constituído por muitos grãos, e estes, embora não se vejam, todavia estão no pão, de tal modo que a sua diferença desapareceu devido à sua perfeita e recíproca fusão, assim também nós estamos unidos reciprocamente entre nós e, todos juntos, com Cristo».4 A argumentação é linear: a nossa união com Cristo, que é dom e graça para cada um, faz com que, n’Ele, sejamos parte também do seu corpo total que é a Igreja. A Eucaristia consolida a incorporação em Cristo operada no Baptismo pelo dom do Espírito (cf. 1 Cor 12, 13.27).
O dom de Cristo e do seu Espírito, que recebemos na comunhão eucarística, realiza plena e sobreabundantemente os anseios de unidade fraterna que vivem no coração humano e ao mesmo tempo eleva esta experiência de fraternidade, que é a participação comum na mesma mesa eucarística, a níveis que estão muito acima da mera experiência dum banquete humano. Pela comunhão do corpo de Cristo, a Igreja consegue cada vez mais profundamente ser, «em Cristo, como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano».5
Aos germes de desagregação tão enraizados na humanidade por causa do pecado, como demonstra a experiência quotidiana, contrapõe-se a força geradora de unidade do corpo de Cristo. A Eucaristia, construindo a Igreja, cria por isso mesmo comunidade entre os homens.
Papa João Paulo II
in: Carta Encíclica “A Igreja vive da Eucaristia”
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1 Conc. Ecum. Vat. 11, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1
2 Cf. ibid., 9.
3 Cf. Conc. Ecum. Vat. 11, Decr. sobre o ministério e a vida dos sacer- dotes Presbyterornm ordinis, 5. No n. 6 do mesmo decreto, lê-se: «Nenhuma comunidade cristã se edifica sem ter a sua raiz e o seu centro na celebração da santÍssima Eucaristia».
4 Homi/ias sobre a I Carta aos Coríntios, 24, 2: PC 61, 200; cf. Didaké, IX,4: E X. Funk, 1,22; s. Cipriano, Epistula LX111, 13: PL 4, 384.
5 Conc. Ecum. Vat. 11, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 1