Ano de fé
Aspectos básicos da Fé
O Catecismo da Igreja Católica ensina-nos que a fé consiste na adesão pessoal do homem a Deus, ou seja, o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus. E por essa revelação que nos foi feita pelo Filho, que sabemos vivo e ressuscitado, nós cremos em Deus Pai, que nos ama, é infinitamente misericordioso e nos perdoa e também cremos no Espírito Santo, que nos acompanha e nos guia para a Verdade plena.
oão Paulo II, na encíclica “A fé e a razão”, diz-nos: «Foi Deus quem colocou no homem o desejo de conhecer a verdade e de O conhecer a Ele para que, conhecendo e amando-O, possa chegar também à verdade plena sobre si próprio». É efectivamente belo percebermos que, à medida que nos entregamos ao Espírito Santo e vamos caminhando com Ele, mais vamos encontrando respostas para as dúvidas existenciais que
todo o homem coloca: Quem sou? Para que nasci? E, sobretudo, vamos descobrindo que somos feitos à imagem de Deus, no sentido de que também nós somos capazes de amar, de ter compaixão e de perdoar.
A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele. Segundo a Constituição dogmática Dei Verbum (documento do Concílio Vaticano II), para prestar a adesão da fé, são necessários: 1) a prévia e concomitante ajuda da graça divina (ou seja, a fé é-nos dada à partida e vamos também precisando sempre da graça de Deus para continuar a exercer a fé) e 2) os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do entendimento e dá a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade. Diz ainda: «Para que a compreensão da revelação seja sempre mais profunda, o mesmo Espírito Santo aperfeiçoa sem cessar a fé mediante os seus dons».
A fé não é para pessoas que não pensam. De novo o Catecismo esclarece: «Na fé, a inteligência e a vontade humana cooperam com a graça divina. Crer é o acto da inteligência que presta o seu assentimento à verdade divina, por determinação da vontade, movida pela graça de Deus». Sem a intervenção da inteligência e da vontade humanas, a fé não tem bases para caminhar. Por vezes dizemos: “ter fé é assinar uma carta em branco a Deus”, mas isto é só parte da verdade. Com efeito, o exercício da fé exige que demos o nosso acordo a que Deus aja livremente em nós mas, a partir do momento em que “assinamos a carta em branco” precisamos de mobilizar toda a nossa inteligência e focar as nossas capacidades e a nossa vontade em perceber as moções do Espírito Santo que nos vão dando as pistas para aquilo que Deus quer escrever connosco nessa mesma carta em branco. João Paulo II dizia: «A fé e a razão constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade». Para voar para o alto, em direção à Verdade e à Vida plena, precisamos igualmente das duas.
A fé é um acto pessoal, uma resposta livre do homem à proposta de Deus que se revela. Mas não é um acto isolado, assim como a recebemos de outros, devemos transmiti-la a outrem. Cada um de nós tem de se ver como um elo numa grande cadeia. Não posso crer sem ser amparado pela fé dos outros, e pela minha fé contribuo também para amparar os outros na fé. Ou seja, a fé não é só individual, mas também tem uma dimensão comunitária. Este aspecto é particularmente importante nos nossos dias, em que existem teorias que pretendem que a religião (qualquer religião) é um factor sem importância, alheio à sociedade moderna ou até desestabilizador e tendem, por diversos meios, a impedir toda e qualquer influência da religião na vida social. O Papa Bento XVI afirmou: «mesmo em países onde se reconhece uma grande importância ao pluralismo e à tolerância, a religião sofre uma crescente marginalização».
A fé é muito importante, pois como diz João Paulo II, na encíclica “A fé e a razão”: «Existe um conhecimento que é peculiar da fé (…) A fé aperfeiçoa o olhar interior, abrindo a mente para descobrir, no curso dos acontecimentos, a presença operante da Providência». Ou seja, há um conhecimento que só se obtém pela fé, logo, se não a exercitarmos, nunca o poderemos obter. Por outro lado, se a fé abre os nossos olhos interiores, sem ela somos como cegos a caminhar. Por fim, importa ainda consciencializarmo-nos de qual é a finalidade da nossa fé e para isso podemos socorrer-nos de S. Pedro, que afirma claramente que a meta da nossa fé é alcançar a salvação das almas (1 Ped 1, 6-9).
Isolina Gomes
Reforçar a Fé
Todos somos chamados a reforçar a nossa fé. O primeiro meio de que dispomos para a alimentar é a oração. Diz o Catecismo da Igreja Católica: «A oração é condição indispensável para se poder obedecer aos mandamentos de Deus».
Através dela o Espírito Santo abre os olhos do entendimento e isso aumenta a nossa fé; expondo-nos a Deus, adquirimos os conhecimentos que só Ele dá e entendemos coisas que nunca tínhamos entrevisto. A persistência na oração leva-nos a perceber que nós próprios vamos mudando e essa presença actuante de Deus na nossa vida aumenta a nossa fé, podendo torná-la até contagiante. O documento do Vaticano II sobre o apostolado dos leigos (Decreto Apostolicam Actuositatem) diz: «Só com a luz da fé e a meditação da palavra de Deus pode alguém reconhecer sempre e em toda a parte a Deus, procurar em todas as circunstâncias a Sua vontade e ver Cristo em todos os homens».
Dentro da oração, ressalta desde logo particularmente a Eucaristia, a oração em que somos um com Cristo, em que Ele vem ao nosso encontro para fazer maravilhas e nós O acolhemos de coração aberto e com fé expectante. Este encontro de amor é o maior alimento para a nossa fé. Por outro lado, o louvor também é importante. Se o pecado é o inimigo da fé, o louvor é, por excelência, o antipecado. Se o pecado original é a impiedade, ou o desejo de sermos autosuficientes, o contrário do pecado é o louvor, pois nele, reconhecendo a omnipotência de Deus e a sua infinita misericórdia, imolamos o orgulho do homem.
Para aprofundar a fé, temos também ao nosso alcance a leitura e a reflexão. Diz Bento XVI, na carta “A Porta da Fé”: «o conhecimento dos conteúdos de fé é essencial para se dar o próprio assentimento, isto é, para aderir plenamente com a inteligência e a vontade a quanto é proposto pela Igreja». Assim, devemos intensificar a leitura da Bíblia, conhecer os textos do Vaticano II (são dezasseis documentos, que estão coligidos num livro), o Catecismo (são os conteúdos essenciais da fé) e ler livros sobre a fé. Ao lermos, devemos ter presente a advertência de S. Boaventura: «A leitura não é suficiente sem a compunção», ou seja, ao lermos devemos deixar que as palavras nos atinjam, nos impactem. E, para tal, é indispensável antes de qualquer leitura invocar o Espírito Santo, para que abra o nosso coração e o nosso entendimento. Bento XVI também nos convoca a aprofundar o Credo, de modo a que professemos a nossa fé com convicção, confiança e esperança.
Mas, como diz o Papa na carta “A Porta da Fé”: «a fé sem a caridade não dá fruto. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra realizar o seu caminho». Para reforçar a nossa fé, é indispensável que passemos à acção. Já dizia S. Tiago: «pelas minhas obras, te mostrarei a minha fé”» (Tg 2, 8). Na verdade, Deus age na iniciativa do homem e o que mais faz crescer a nossa fé é ver Deus a agir à nossa volta. Temos, então, de nos pôr a caminho (como fez Maria, logo que soube que Isabel precisaria dela) e Deus entrará no nosso esforço e potenciará os resultados. De novo Bento XVI nos ajuda: «a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria». Sim, precisamos de fazer um novo exercício de nos colocar ao serviço dos outros e mesmo estando em serviço, olharmos para o outro e pensar: “Estou a fazer tudo o que posso por esta pessoa? Ou há algo mais de que ele precisa e ainda não fiz?” Precisamos de estar atentos às necessidades dos que nos rodeiam, pois pode acontecer que queiramos dar-lhes coisas e que eles verdadeiramente desejem apenas o nosso tempo, atenção e carinho.
A fé torna-nos fecundos, na medida em que aumenta a nossa esperança e nos permite dar um testemunho que interpela as pessoas. Na verdade, mais importante do que o que dizemos e fazemos, é como o fazemos; decisivo é o nosso testemunho, ou seja, a atitude que temos perante as circunstâncias da vida e em especial nos nossos momentos de provação. Nos primeiros tempos do cristianismo, foram as atitudes que levava a dizer “vede como eles se amam” que questionaram e levaram à adesão de muitos judeus e gentios – o amor na partilha de refeições, o cuidado na assistência aos desvalidos, nomeadamente órfãos e viúvas, o facto de uns venderem os seus bens para ajudar os outros. Outro exemplo fecundo foi o dos mártires das perseguições dos Romanos, que avançavam para as feras que os iriam matar, cantando hinos de glória a Deus. Também hoje somos chamados a viver de acordo com a nossa fé, fazendo brilhar a luz de Deus e a esperança. Bento XVI diz que «pela fé, vivemos reconhecendo o Senhor Jesus vivo e presente na nossa vida e na história»; assim sendo, a nossa esperança e confiança em Deus têm de ser manifestas e tornar-nos diferentes na maneira de encarar as contrariedades da vida. A vida dos cristãos sempre incluiu a experiência da alegria e também a do sofrimento. Maria não teve uma vida fácil e, nomeadamente no Calvário, sabemos que se manteve de pé; as vidas dos santos mostram-nos pessoas que colocaram toda a sua confiança em Deus e com Ele viveram e ultrapassaram grandes dificuldades e martírios. Hoje todos somos chamados a evangelizar pelo exemplo, pela nossa atitude. Tem de ser evidente na vida de cada um de nós aquilo que, segundo Bento XVI, caracteriza os cristãos: Sustentados pela fé, olhamos com esperança o nosso serviço no mundo, aguardando “novos céus e uma nova terra, onde habite a justiça”.
Isolina Gomes
A força da fé
“Estai vigilantes, permanecei firmes na fé” (1ª Cor. 16,13)
Por iniciativa do Santo Padre estamos a celebrar o Ano da fé.
E o Santo Padre propôs que o povo Cristão redescubra
o caminho da fé, fazendo brilhar o seu encontro com Cristo.
O Batismo é o início do longo caminho da fé, que é para ser vivido na alegria de filhos de Deus, em toda a nossa vida.
O Batismo é a entrada na grande família de Deus. É a porta
O Santo Padre lembra também que os conteúdos essenciais da fé precisam de ser confirmados, compreendidos
e aprofundados de uma maneira sempre nova.
Diz ainda: devemos readquirir o gosto de nos alimentarmos da Palavra de Deus, transmitida fielmente pela Igreja e do Pão da Vida, oferecido como sustento de quantos são seus discípulos.
O surdo-mudo de que nos fala o evangelho, (Mc.7,34) não podia escutar a palavra de Deus, e ainda mudo, não podia falar. Não podia proclamar a palavra.
O surdo-mudo é trazido a Jesus por desconhecidos – Jesus toca-lhe os ouvidos e a língua – e diz-nos o Evangelho – Jesus disse uma só palavra – EFATÁ que quer dizer: abre-te.
Foi uma ordem dirigida ao coração e á mente daquele homem.
Jesus sabia que é no coração e na mente que se encontram as grandes prisões e diz-nos a palavra V. 35. “os ouvidos abriram-se, soltou-se a prisão da língua”.
O surdo consegue ouvir e falar. Aconteceu o encontro com Jesus no espírito de abertura total ao Dom de Deus.
A Fé é uma experiencia de abertura, de libertação de tudo que nos impede de escutar e proclamar, louvar, rezar, e de viver segundo o projeto de Deus.
É seriamente um convite para cada um de nós.
Efatá – Abre-te – Abre o teu coração ao dom de Deus para que a Palavra germine e dê fruto de vida nova, na fé. Abre o teu coração e a tua boca para louvar e proclamar.
A fé ajuda-nos a ver a vida de uma maneira nova – com um novo encanto, com esperança viva, esperança nova, com fé forte. É desafio para cada um de nós.
A esperança faz de nós pessoas de fé – feliz o homem que confia no Senhor, suas raízes são como a árvore plantada à beira da corrente, sua folhagem não murcha.
Quando rezamos o Credo afirmamos a nossa fé.
O Credo começa por nos dizer: “Creio em Deus Pai todo-poderoso, Criador do céu e da terra.” Todo o Credo se liga a esta primeira parte que podemos chamar de sinfonia da fé, tal como os dez mandamentos estão ligados entre si, sendo o primeiro o mais importante.
Escuta Israel – “ o Senhor é um” (Mc 12, 28)
Neste primeiro artigo do Credo é revelado ao homem a sua origem, de onde vem – e a sua finalidade – para onde vai.
O homem tem a sua origem em Deus, e Deus é a sua meta. Pois Aquele que nos criou sem nós, não nos salva sem nós.
O Justo vivera pela fé. (Rom. 1, 17)
“È pela graça que fostes salvos mediante a fé” (Ef. 2 ,8)
Recebemos o dom da fé quando somos batizados, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Nesse momento Deus coloca na nossa alma uma semente de fé. Essa semente de fé precisa de crescer e de desenvolver-se dentro de nós. Quando o coração está tomado pela fé, encontramos coragem para vencer obstáculos. (Lc. 17, 1-6)
Sabemos que é a graça de Deus, visto que a fé é dom de Deus, devemos cooperar com a graça recebida, lendo e meditando diariamente a Palavra de Deus, pois só assim conhecemos verdadeiramente quem é Jesus.
“Eis o Deus que me salva, tenho confiança e nada temo, porque minha força e meu canto é o Senhor, Ele é o meu Salvador” (Is. 12, 2)
É fundamental a nossa participação ativa na vida da Igreja. Caminho de alimento na fé. Grande proveito traz para uma vida de fé a adesão a algum movimento da Igreja, grupos de oração, etc.
A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural e infundida na alma. (Catecismo da Igreja Católica nº 150)
Crer é um ato eclesial. A Fé da Igreja sustenta e alimenta a nossa fé. A nossa fé é a fé da Igreja.
A Igreja é a Mãe de todos os crentes, ninguém pode ter Deus por Pai, se não tiver a Igreja por Mãe. (Catecismo da Igreja Católica nº 188).
Não caminha ás cegas quem se deixa guiar por Deus. O Homem de fé, vê com olhos de Deus.
Jesus Cristo é sempre o mesmo:
Ontem, hoje, e por toda a eternidade. (Hb. 13, 8).
É preciso abrir o coração ao amor de Deus, é preciso que o nosso louvor se abra às consequências da Sua Palavra; que a verdade e a justiça encham os corações e as mentes; que se abram e deitem fora preconceitos da religião vazia, da rotina sem alma.
Que o Espírito Santo nos encha de confiança e fé.
Abraão confiou – A água jorrou na rocha do deserto.
Maria Santíssima acreditou – e Jesus Nasceu – Mulher de fé.
Sacrário Vivo da Eucaristia – Onde o alimento da fé se perpetua para sempre na Eucaristia.
Amem.
Emília Martins
Eis que Eu estarei ali diante de ti sobre a rocha, em Horebe, e tu ferirás a rocha, e dela sairão águas e o povo beberá. E Moisés assim o fez, diante dos olhos dos anciãos de Israel. Êxodo 17:6
(foto Artur Ferrão in 1000imagens.com)