“Cantar é rezar duas vezes” dizia Santo Agostinho. Ele, um pregador por excelência, reconhecia no canto, uma ajuda suplementar para a oração…

Diz também o Irmão Roger, de Taizé, que “não há nada que conduza mais à comunhão com o Deus vivo, do que uma oração comunitária meditativa. O canto prolonga-se e permanece no silêncio do coração, mesmo quando ficamos sós.”
Logo, cantar aproxima-nos mais de Deus, ajuda á intimidade com Ele.

 

No Renovamento Carismático o canto assume este papel fundamental. A tónica é a alegria, a simplicidade, mas também a intimidade e espiritualidade, levando a essa aproximação maior a Deus. Porque são simples, de linha melódica fácil, muitos dos cânticos do Renovamento já têm sido chamados de cânticos infantis. Longe de ser um defeito, esta qualidade estimula uma relação filial com Deus, de humildade, admiração e obediência.

 

A espontaneidade é outra característica do cântico carismático. Qualquer irmão pode, durante a oração, irromper com um cântico, tornando assim cantada a sua oração verbal. E a partir deste cântico é habitual outros irmãos continuarem a oração, servindo-se da letra ou da música para continuarem rezando.

O canto torna-se assim um elemento que, não só descontrai durante a oração, mas ajuda à interiorização, ao louvor, à abertura ao Espírito. Transforma-se num elemento agregante, envolvente, que ajuda a consolidar a oração verbal, e que pode tocar profundamente, sobretudo quando bem cantado, no momento adequado.

O canto adapta-se ao decorrer de um encontro de oração. Pode equilibrá-lo, dando-lhe alegria quando está triste, ou serenidade quando está agitado. Louvor, evocação do Espírito Santo, adoração, acção de graças, leitura da Sagrada Escritura, Maria, intercessão, oração de cura, enfim, para todos os momentos de uma oração, existem cânticos específicos, descritos em secções de vários livros, como o “Cantai ao Senhor um Cântico Novo” das Edições Pneuma.

Em geral existe um irmão com maior responsabilidade no canto que, em sintonia com o irmão-servidor que orienta a oração e abrindo-se ao Espírito, introduz de um modo inspirado os cânticos adequados. Por detrás desta presença actuante na oração, está todo um trabalho de preparação técnica, pesquisa, estudo e ensaios com o grupo musical, de modo a que o canto não se torne uma agressão auditiva e um elemento de dispersão, mas cumpra as funções acima descritas.

 

O canto no Renovamento Carismático tem duas características peculiares. A primeira é a linguagem gestual, em que os cantores se entregam, não só em voz, ou em espírito, mas também em corpo, manifestando, com expressões várias, gestos, palmas, etc, os seus sentimentos. O outro é o canto em línguas, um momento muito estranho para quem o ouve pela primeira vez. Tudo começa na unção da oração, ou talvez mais, na unção do canto.

Pela unção os cantores muitas vezes transmitem aos restantes irmãos, o que provavelmente conseguem com mais facilidade, que é deixar cantar neles o Espírito Santo. Mas o Espírito não canta elaboradamente, e muito menos nos deixa elaborar mentalmente o louvor que vai chegar a Deus, mas sim, reduz ao modo mais simples a nossa linguagem, transformando-a em gemidos inefáveis, e ensinando-nos a dizer “ABBA, nosso querido Papá”.

 

António Macedo
Grupo Pneumavita, Lisboa