ANTECEDENTES

Os primeiros movimentos Carismáticos 

O Renovamento Carismático não é algo completamente novo na vida da Igreja. Ao longo dos séculos conheceram-se muitas renovações, avivamentos (revivalismos) ou despertares. A maioria dessas renovações ou reformas surgiram por uma certa nostalgia da vida da Igreja primitiva, uma Igreja transbordante de Espírito e de carismas.

O primeiro movimento carismático conhecido na vida da Igreja foi protagonizado por Montano, nos finais do século II da nossa era. Mas não é fácil fazer-se uma ideia do que realmente foi. Só o conhecemos através do testemunho daqueles que se lhe opuseram. O montanismo foi uma reacção muito forte contra uma Igreja que começava a mostrar os primeiros sintomas de instalação. Pôs em evidência os carismas defalar em línguas e de profecia. Mas os abusos incrustaram-se no seu seio. Reprovou-se a sua rigidez, o iluminismo, o feminismo e, sobretudo, a pretensão de estabelecer uma hierarquia carismática em competição com a hierarquia oficial. A hierarquia da Igreja pôs em ordem aquela desordem e impôs a disciplina. Assim se evitou o risco de desvio. Mas a intervenção da Igreja teve como efeito o quase total desaparecimento dos carismas.

As renovações que maior êxito tiveram na vida da Igreja foram as da vida monástica e religiosa: Santo António (séc. IV), S. Bento de Nursia (séc. VI), S. Domingos de Gusmão e S. Francisco de Assis (séc. XIII). O nascimento de tantas Ordens religiosas foi um impulso na vida da Igreja. Com elas rejuvenesceu, num momento de uma certa obscuridade.

Na Idade Média apareceram muitos grupos entusiastas e carismáticos: os Valdenses, discípulos de Pedro Valdo; os Fraticelli, as Beguinas, terciárias franciscanas conquistadas pelas ideias dos Fraticelli, etc. Não é fácil determinar o valor de nenhum destes grupos, já que os seus escritos desapareceram quase por completo e só os conhecemos pelo testemunho dos que se lhes opunham. Mas sabemos que tratavam de voltar à pobreza e à vida evangélica.

A partir do séc. XVII produziram-se, no seio da Reforma protestante, uma série de movimentos que foram designados como revivalismos oudespertares (Revivals). A figura mais significativa foi a de J. Wesley (1703-1791), sacerdote anglicano, fundador do Metodismo.

Para os metodistas, o essencial era a primeira conversão do homem, o encontro pessoal com Jesus, a experiência de salvação. A conversão foi considerada como um primeiro passo ou como uma bênção, a que se devia seguir outra para assegurar a firmeza da primeira conversão. Esta segunda bênção recebeu o nome de santificação. No Movimento de santidade, derivado do Metodismo de J. Wesley, a santificação foi designada com o nome de baptismo no Espírito. A expressão passava assim a fazer parte da vida ordinária dos Movimentos de santidade.

Pe. Vicente Borragán Mata, OP

in “Como um Vendaval… O Renovamento Carismático”,ed. Pneuma

Os Papas Leão XIII e João XXIII

Já desde os finais do século XIX, o Papa Leão XIII tentou sensibilizar a Igreja para a acção e a presença do Espírito Santo. Nisto teve uma grande intervenção uma religiosa chamada Soror Elena Guerra, fundadora das Irmãs Oblatas do Espírito Santo, cuja finalidade era promover a devoção ao Espírito Santo.

Entre 1895 e 1903, Soror Elena escreveu doze cartas a Leão XIII, pedindo-lhe uma prédica renovada sobre o Espírito Santo. E o Papa acedeu aos seus pedidos. Leão XIII publicou a encíclica Provida Matris caritate, em que pedia a toda a Igreja que celebrasse uma novena solene ao Espírito Santo, entre a Ascensão e o Pentecostes. Soror Elena começou, então, a formação de grupos de oração, a que chamava Cenáculos permanentes, para pedir a vinda do Espírito. Leão XIII voltou a publicar outra encíclica sobre o Espírito Santo, intitulada Divinum illud munnus. Mas não teve a ressonância nem a aceitação que seriam desejáveis.

Por sugestão de Soror Elena Guerra, na noite de 31 de Dezembro de 1900 Leão XIII convidou os católicos de Roma para uma vigília de oração. Quando na Basílica de S. Pedro deu a meia-noite, o Papa entoou o hino Veni Creator Spiritus. O século que começava foi posto sob protecção do Espírito. Era como um bom presságio. Naquele mesmo dia, em Topeka (Kansas, Estados Unidos), teve lugar uma acção extraordinária, que marcou o início do pentecostalismo.

João XXIII pode ser considerado o Papa que preparou o terreno ao Renovamento na Igreja católica. Patti Mansfield conta no seu livro Como um novo Pentecostes que, quando Angelo Roncalli (futuro João XXIII) era bispo, foi visitar uma pequena cidade na Checoslováquia, com cerca de 300 habitantes. Vivia ali uma senhora, chamada Anne Mariae Schmid, que tinha conhecido Patti e que lhe contou os factos que se seguem. Durante vários séculos, os habitantes daquela aldeia tinham experimentado quase todos os carismas de que São Paulo falava na Carta aos Coríntios. Havia carismas de profecia, de línguas, de cura, de discernimento dos espíritos. Quando um adoecia, todo o povo rezava por ele, esperando a cura de Deus. As famílias permaneciam unidas, reinava o amor e a paz, a Sagrada Escritura era lida nas casas e os jovens aprendiam a viver sob o poder do Espírito Santo. As manifestações carismáticas remontavam, segundo o testemunho de Anne Mariae, ao século XI da nossa era.

O bispo Angelo Giuseppe Roncalli, João XXIII, tomou contacto com este ambiente por volta de 1930. Nessa pequena aldeia era acolhido com alegria. Em 1938 as tropas alemãs mataram a maioria dos seus habitantes. Anne Mariae sobreviveu aos campos de concentração e pôde contar esta bela história.

A primeira pessoa que João XXIII beatificou foi precisamente Soror Elena Guerra, a quem chamou o “apóstolo do Espírito Santo”.

Pe. Vicente Borragán Mata, OP

in “Como um Vendaval… O Renovamento Carismático”,ed. Pneuma

O Concilio Vaticano II – um novo pentecostes para a Igreja

Ao fazer a história das origens do Renovamento Carismático, parece quase inevitável referir-se a oração que o Papa João XXIII compôs por ocasião da convocação do Concílio Vaticano II em que dizia, entre outras coisas: “Digne-se o Divino Espírito escutar da forma mais consoladora a oração que sobe a Ele desde as profundezas da terra… Renovai no nosso tempo os prodígios como num novo pentecostes…”

Como surgiu em João XXIII o desejo de convocar um concílio universal e de pedir um novo pentecostes para a Igreja? Porque não imaginar uma igreja inundada de dons e carismas? Que esperava para a igreja?

Parece que a ideia de um concílio surgiu na mente do Papa com uma naturalidade surpreendente. Numa manhã de inverno, a 20 de Janeiro de 1959, João XXIII estava sentado na sua sala de trabalho, na biblioteca pontifícia. Diante dele estava o cardeal Tardini, Secretário de Estado, que recebia todas as manhãs. Naquele dia examinaram a situação crítica da Igreja nalguns países. Que deveria fazer a Igreja? O cardeal Tardini escutava, com respeito. O Papa fazia a si mesmo um monte de perguntas. De repente sussurrou-lhe uma palavra: “Um concílio!” O cardeal Tardini ficou imediatamente conquistado pela ideia. O assentimento do cardeal foi “como o primeiro sinal seguro da vontade do Senhor”. “Flor de inesperada primavera”, assim definiu João XXIII a ideia de convocar um concílio. E, no dia 25 de Janeiro de 1959, foi solenemente anunciado o concílio Vaticano II, o vigésimo primeiro concílio na história da Igreja. O Vaticano II foi inaugurado a 11 de Outubro de 1962. Nele se reuniram 2500 bispos do mundo inteiro. A cerimónia foi impressionante. O Papa fez a profissão de fé, enquanto os 2500 bispos acompanhavam, em voz baixa, aquelas palavras: “Juro e prometo”. Cantaram-se as ladaínhas aos santos e o evangelho, em latim e grego. João XXIII falou durante 35 minutos em latim. Foi um discurso “valente e explosivo”. Foi como um bom presságio em relação ao que estava para vir.

João XXIII morreu no dia 3 de Junho de 1963. Dezoito dias depois, a 21 de Junho de 1963, era eleito sumo Pontífice o cardeal João Baptista Montini, que tomou o nome de Paulo VI. E, no dia seguinte à sua eleição, apressou-se a anunciar que a “parte principal” do seu pontificado seria ocupada com a continuação do Concílio.

O concílio terminou no dia 7 de Dezembro de 1965, depois de quatro sessões (1962, 1963, 1964, 1965). Mas o Espírito não encerrou a Sua obra quando se concluíram as sessões conciliares, permaneceu activo na vida da Igreja.

O Vaticano II foi um tempo de graça. O Espírito Santo voltou a ocupar o primeiro lugar na vida da Igreja. Nos textos conciliares fala-se do Espírito 258 vezes. Foi como um pentecostes para os bispos e a partir deles para a Igreja inteira. A Igreja foi abraçada pelo Espírito e ela abraçou o mundo inteiro e entrou em diálogo amistoso com ele, sem reprovações nem condenações, com uma palavra salvadora nos seus lábios.

Que imaginávamos que poderia acontecer quando João XXIII convocou o concílio Vaticano II e pediu ao Senhor um novo pentecostes para a Igreja? Sabemos o que sucedeu no primeiro Pentecostes da Igreja: fogo, línguas, louvor, medos vencidos, vidas transformadas… Foi isso que pedimos nos meses anteriores ao Concílio: “Renovai tudo isto em nossos dias; renovai o fogo e o poder, as línguas e o louvor, a alegria e o testemunho, os dons e os carismas, as graças do princípio”. O que esperávamos? Um Espírito Santo que deixasse as coisas tal como estavam e não se metesse nas nossas vidas? “Talvez estivéssemos preparados para receber um Espírito que fosse uma brisa suave, mas não um vendaval; um Espírito que trouxesse calor, mas não que fosse um fogo abrasador” (S. Falvo). Um novo pentecostes! Um sopro renovador para toda a Igreja e todos os homens! Foi isso que pedimos. O Vaticano II foi o prelúdio do Renovamento. Quando terminou o Concílio, começou o Renovamento. “O Vaticano II foi o Pentecostes oficial dos bispos, o Renovamento Carismático o pentecostes dos fiéis”.

Pe. Vicente Borragán Mata, OP

in “Como um Vendaval… O Renovamento Carismático”,ed. Pneuma

A Primeira experiência Carismática

Enquanto a Igreja suplicava por um novo pentecostes e começava a vivê-lo a nível da hierarquia, uma faúlha insignificante começou a acender-se nos Estados Unidos. O Renovamento Carismático está ligado, desde as suas origens, a duas Universidades católicas americanas: de Duquesne, em Pittsburg (Pensilvânia) e de Notre Dame, em South Bend (Indiana).

A Universidade de Duquesne é dirigida por Padres do Espírito Santo e o seu nome completo é Universidade do Espírito Santo de Duquesne. A Universidade de Notre Dame é a universidade católica mais conhecida nos Estados Unidos e é dirigida pelos Padres da Santa Cruz. A estas duas haveria de juntar-se a Universidade de Ann Arbor, em East Lansing (Michigan), que também esteve ligada desde os primeiros dias. Entre estas universidades existiam muitos laços de união. Muitos professores conheciam-se, eram amigos e comunicavam entre si. Alguns eram membros activos dos Cursilhos de Cristandade, que tinham sido introduzidos com grande êxito, em 1964, na Universidade de Notre Dame.

Em Agosto de 1966 celebrou-se, na Universidade de Duquesne, o congresso nacional dos Cursilhos de Cristandade. Vários professores assistiram, entre os quais Ralph Keifer e a esposa, Patrick Bourgeois e William Storey. Também estiveram presentes alguns professores da Universidade de Notre Dame, entre os quais Steve Clark e Ralph Martin. Steve Clark comunicou aos seus companheiros que tinha acabado de ler um livro que lhe tinha chamado muito a atenção. Chamava-se A cruz e o punhal e nele se relatava o ministério de um pastor protestante entre as quadrilhas mais perigosas dos bairros de Nova Iorque e como as suas vidas mudavam por completo quando recebiam o baptismo ou a efusão do Espírito Santo. Seria verdade tudo aquilo? Seria um relato novelesco? Um dos professores quis comprovar, passo a passo, texto por texto, tudo o que se dizia no livro sobre a efusão do Espírito, para ver se coincidia com o que está dito no Novo Testamento. Tudo lhe pareceu claro e convincente. Era como descobrir o cristianismo pela primeira vez. Jesus foi baptizado no Espírito, prometeu o Espírito aos seus discípulos, eles foram baptizados no Espírito e assim começou para eles uma vida nova e cheia de poder. A cruz e o punhal era um testemunho vivo de que o Espírito Santo continuava a actuar com poder. Pouco depois chegou-lhes às mãos um livro de J.L.Sherril, intitulado Falam outras línguas, que também leram com avidez. Durante algum tempo os professores de Duquesne partilharam entre eles o conteúdo daqueles livros e oraram com base neles. Ali podia estar o segredo dessa força e desse poder que procuravam. Porque não pedir ao Espírito Santo que animasse as suas vidas e as dos demais? E comprometeram-se todos a rezar diariamente, uns pelos outros, a sequência Vem Espírito Divino. E continuaram à espera de uma resposta. Estava-se já no Outono do ano de 1966.

E chegou o momento em que acharam que já tinham lido, discutido, partilhado e orado bastante. Que fazer? Nas reuniões levantaram várias possibilidades: assistir a uma reunião de oração de um grupo pentecostal, imporem as mãos uns sobre os outros para pedir uma efusão do Espírito Santo… Mas acharam que o melhor era ter um encontro com alguns neopentecostais que tivessem permanecido nas suas próprias igrejas. Sentiam necessidade de conhecer alguém que falasse em línguas e que tivesse poder de cura, enfim, que tivesse feito a experiência da efusão do Espírito. Puseram-se em contacto com um sacerdote da Igreja episcopaliana chamado William Lewis, que os conduziu a uma das suas paroquianas, chamada Betty Shomaker, que era membro de um grupo carismático interconfessional. Era um grupo pequeno, mas vivo. Pouco antes do encontro de 13 de Janeiro de 1967 Flo Dodge recebeu uma chamada de Betty Schomaker, a pedir-lhe que se fizesse algo especial na noite em que os católicos os visitassem. Flo Dodge sentia uma voz interior que lhe dizia: “Pede-lhes (aos responsáveis) que ajudem e orem e sejam obedientes ao Espírito Santo e algo histórico acontecerá”.

Na tarde de 13 de Janeiro, entre as sete e meia e as oito, chegaram à moradia de Flo Dodge quatro visitantes da Universidade de Duquesne. Ali estavam W. Storey, R. Keifer e sua esposa, e Patrick Bourgeois. A oração começou e seguiu o seu curso normal mas, quando estava para acabar, W. Storey levantou-se de repente e disse: “Há muito tempo que espero este momento. Vim para receber a efusão do Espírito e não  me vou embora sem a ter obtido”. Flo Dodge pediu a um membro do grupo, chamado Jim Prophater, que se reunisse com o professor e averiguasse se estava disposto a receber a efusão do Espírito Santo. Jim perguntou-lhe, segundo o testemunho de Flo Dodge, qual era a sua fé em Jesus. O professor respondeu-lhe que O amava de todo o seu coração e que estava ansioso por receber mais do seu Espírito Santo. Os assistentes deram as mãos, formando uma roda, e Jim Prophater fez uma oração singela: “Senhor, Tu conheces o seu coração e a sua necessidade. Enche-o do Teu Espírito Santo até que transborde”. Flo Dodge assegura que pôde sentir o Espírito Santo a descer sobre o professor. Mas ele não rezou em línguas e ninguém impôs as mãos sobre ele.

Na sexta-feira seguinte, 20 de Janeiro de 1967, dois daqueles quatro católicos voltaram a casa de Flo Dodge. A oração terminou quando Patrick Bourgeois e R. Keifer pediram que rezassem para que recebessem a efusão do Espírito. Pediram-lhes que fizessem um acto de fé. Acto contínuo R. Keifer começou a falar em línguas.

A vida daqueles professores sofreu uma profunda transformação. A efusão do Espírito foi a resposta dada por Deus ao seu desejo e à sua oração, para que a sua vida fosse reavivada e o seu ministério tivesse força e poder. Logo em seguida Jesus tornou-se muito mais familiar, a oração converteu-se em puro louvor ao Senhor, uma nova fé fazia-os transbordar de alegria. A faúlha estava acesa. Podia ter sido somente uma faísca. Mas o Senhor tinha guardadas grandes surpresas.

Pe. Vicente Borragán Mata, OP

in “Como um Vendaval… O Renovamento Carismático”,ed. Pneuma

A Cruz e o Punhal

Em Agosto de 1966 realizou-se em Kansas City, no estado de Missouri, EUA, a Convenção Nacional dos Cursilhos de Cristandade, na qual estiveram presentes Ralph Keifer e William Storey, dois professores leigos da Universidade do Espírito Santo de Duquesne.

Aqui encontraram os seus amigos Ralph Martin e Steve Clark, também eles cursilhistas, convidados para fazer as palestras de abertura e de encerramento da convenção. Ralph Martin e Steve Clark tinham acabado de ler o livro “A Cruz e o Punhal” e aconselharam vivamente a sua leitura aos dois professores de Duquesne, que o leram logo que regressaram a casa.

“A Cruz e o Punhal” é o testemunho autobiográfico de um pastor pentecostal no meio das quadrilhas mais perigosas de Nova Iorque e de como as vidas destes jovens marginais ficavam totalmente transformadas depois de receberem a efusão do Espírito Santo. Do ministério deste pastor irá nascer o Centro de Reabilitação “Teen Challenge”, hoje com filiais nas principais cidades do mundo.

A leitura de “A Cruz e o Punhal” foi pedida a todos quantos iam participar no retiro do fim de semana de Duquesne e, através dos testemunhos prestados, sabemos como este livro despertou neles uma profunda fome espiritual, fazendo crescer mais e mais o desejo de que o poder misericordioso do Espírito Santo actuasse nas suas vidas. Afinal, o mesmo Espírito que, dois mil anos atrás, de um grupo de homens cheios de medo constituira intrépidos apóstolos, lançando-os para a diáspora do Evangelho de Jesus Cristo.

No propósito de continuar a divulgar os primórdios do Renovamento Carismático na Igreja Católica, iniciamos um breve resumo desse interpelante registo que foi, é e continuará a ser “A Cruz e o Punhal”.

“Pela fé conquistaram reinos, exerceram a justiça, conseguiram as promessas, taparam as fauces dos leões, extinguiram a violência do fogo…hauriram força da própria fraqueza” (Hb 11, 35ss)

O reverendo David Wilkerson servia a Igreja Pentecostal em Philipsburgh, uma cidadezinha do interior no estado da Pensilvânia, a cerca de seiscentos quilómetros de Nova Iorque. Naquela comunidade de pessoas humildes, honestas e tementes a Deus, o trabalho do Rev. David desenvolvia-se com muito sucesso: foram construídas uma igreja nova e a casa paroquial, o orçamento missionário aumentava semana a semana e era cada vez maior o número de fiéis.

Através da oração, David procurava sempre conhecer a vontade de Deus para a sua vida e agir em conformidade. No entanto, a partir de certa altura, começou a sentir uma crescente insatisfação espiritual e, numa noite de Fevereiro de 1958, resolveu vender o seu televisor (era o único na família que costumava ver televisão) e passar, em oração, aquelas duas horas a seguir à meia-noite que diariamente gastava em frente do écran. Fechado no seu escritório, David aprendeu como é importante fazer a diferença entre oração de petição e oração de louvor; como é maravilhoso passar uma hora inteira louvando e dando graças; como é frutuoso uma leitura sistemática da Bíblia.

Numa destas noites, em que se sentia particularmente agitado (sem que para tal houvesse razão, pensava ele) e após várias hesitações (o quê, cair na armadilha de ler uma revista enquanto devia estar em oração ?!), o Senhor fê-lo pegar num exemplar da revista “Life”. Ao folheá-la, David deu com um desenho sobre um julgamento que se estava a realizar na cidade de Nova Iorque: sete membros de uma famosa quadrilha de adolescentes, “Os Dragões”, estavam a ser julgados pelo brutal assassínio de Michael Farmes, um jovem paralítico de quinze anos.

Ao olhar os seus rostos, onde se estampava uma expressão mista de espanto, ódio e desespero, David começou a chorar e o Senhor pôs repetidamente no seu coração estas palavras: “Vai a Nova Iorque e ajuda estes meninos”. David ainda respondeu: ” Senhor, Nova Iorque, tão longe, nunca lá estive! E sabes que eu não entendo nada de crianças!” Mas o Senhor continuava a insistir: “Vai a Nova Iorque e ajuda estes meninos”. David compreendeu que tinha de partir imediatamente para Nova Iorque.

No dia seguinte, reuniu a comunidade, mostrou-lhes aquela página da revista e, perante a incredulidade dos fiéis (Quem é que não sentia aversão por aqueles drogados?) manifestou a sua vontade de ir a Nova Iorque e pediu-lhes dinheiro para a viagem. Apesar de não perceberem as razões do pastor, vieram silenciosamente à frente e, um a um, colocaram as suas ofertas sobre a mesa da comunhão: 75 dólares, quase o suficiente para ir a Nova Iorque de automóvel e voltar. Telefonou para Gwen, a sua mulher, a passar uns dias com os filhos em casa dos avós, e partiu para Nova Iorque, acompanhado por Miles Hoover, o responsável pelos jovens da sua igreja. Na mão, aquela página arrancada da revista “Life”.

Já a rolar pela estrada, David pediu a Miles que abrisse a Bíblia ao acaso, pousasse o dedo e lesse. Durante muito tempo, essas palavras do Senhor irão ser o seu único estímulo: ” Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão. À ida, vão a chorar carregando e lançando as sementes; no regresso, cantam de alegria transportando os feixes de espigas ” (Sl 126, 5-6).

“Sem mim nada podeis fazer” (Rm 3, 21)

Chegado a Nova Iorque, David tentou, em vão, contactar o promotor de justiça. Conseguiu saber, no entanto, que a única pessoa que poderia autorizar a visita àqueles sete jovens era o próprio juíz Davidson, que estaria presente no julgamento no dia seguinte, de manhã cedo. Sem pequeno almoço, chegaram na manhã seguinte ao tribunal: havia já uma fila de quarenta pessoas para entrarem e apenas quarenta e dois lugares disponíveis para o público; David e Miles ocuparam, pois, os dois últimos lugares.

Dentro de grandes medidas de segurança (temia-se um ataque ao juíz Davidson por parte de elementos da quadrilha “Os Dragões”, que o haviam ameaçado), os jovens entraram, algemados a um guarda, deu-se início ao julgamento e a manhã passou-se com a audição de várias testemunhas. Quando a sessão foi dada por terminada, David, pressentindo que iria perder a única oportunidade de falar pessoalmente com o juíz, fez uma oração rápida e correu para a frente da sala com a Bíblia na mão. Foi agarrado pelos guardas, levado para fora da sala, identificado e revistado. Alguns jornalistas e fotógrafos ali presentes conseguiram uma surpreendente notícia de primeira página: um pregador com os olhos arregalados, o cabelo desalinhado e acenando com a Bíblia, tinha interrompido e sido expulso do julgamento do homicídio de Michael Farmes.

Logo que os deixaram sair com a promessa de não voltarem, David e Miles correram para o carro, partiram e David chorou sem parar durante vinte minutos, questionando-se sobre qual era realmente a vontade de Deus. Será que não se tinha enganado? Mas as palavras do salmo fizeram-se presentes com todo o seu poder.

De regresso a Philipsburgh, David quis passar primeiro por casa dos pais. Como uma criança quando se magoa, queria chorar um pouco no seu ombro. E pensava: “Qual será a sua atitude quando virem a notícia no jornal?” Afinal , o nome deles também fora exposto ao ridículo. Os pais acolheram-no com muita alegria, ainda que preocupados porque aquele acto podia fazer com que David perdesse a sua posição na igreja. À partida, a mãe deu-lhe um conselho no qual pensou durante todo o resto do caminho: “Quando chegares a casa, não te apresses a dizer que estavas errado. O Senhor trabalha de maneiras misteriosas para executar as Suas maravilhas. É possível que tudo isto faça parte de um plano que tu ainda não conheces.” Foi difícil enfrentar a população de Philipsburgh e muito mais difícil foi enfrentar a sua comunidade de fiéis no primeiro domingo, mas todos compreenderam que, apesar de ter agido como um tolo, as intenções do pastor eram boas.

“E destes factos somos testemunhas nós e o Espírito Santo que Deus concedeu aos que se submetem a Ele”( Act 5, 31)

David retomou os afazeres usuais mas, na sua oração nocturna, David começou novamente a ouvir uma ordem do Senhor para que voltasse a Nova Iorque. Desta vez, a ordem vinha acompanhada por um versículo: “Sabei que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito”. David não tinha dinheiro e não queria voltar a pedir aos membros da sua igreja. Mas um dia, sem saber como, levantou-se do seu lugar e pediu. A oferta dos fiéis dava precisamente para ir a Nova Iorque. E de novo David partiu com Miles.

Ao entrar na cidade, David rezou assim: “Senhor, não faço a mínima ideia porque permitiste que acontecesse o que aconteceu na semana passada, nem por que razão estou a voltar para esta confusão. Não peço que me reveles os Teus propósitos; apenas que guies os meus passos.” A certa altura, David sentiu que devia descer do carro e, por isso, estacionaram logo que apareceu um lugar vago. Mal começara a caminhar, ouviu uma voz: “Olá, David. O senhor não é aquele pregador que foi expulso do julgamento? Vi a sua fotografia no jornal.” Era Tomé, o presidente da quadrilha “Os Rebeldes”. Tomé apresentou-o aos restantes membros da quadrilha e levou-o também a conhecer uma outra quadrilha, “Os Grandes Bandidos”, reunidos num lugar escuro, frio e mal cheiroso. Neste ambiente promíscuo, de rapazes e raparigas de olhar parado e com os braços totalmente picados, David pregou o seu primeiro sermão em Nova Iorque. Disse-lhes simplesmente que Deus os amava muito e que queria dar-lhes tudo aquilo que as coisas do mundo nunca conseguiriam: uma vida renovada e em liberdade, plena de paz e de alegria.

De regresso ao automóvel, David ficou arrepiado, como sempre lhe acontecia quando sentia os perfeitos desígnios de Deus. Afinal, aquela notícia nos jornais que tanto o amargurara fora a porta aberta para as quadrilhas de jovens, que o aceitaram e passaram a considerar como “um dos nossos” visto que a polícia não gostava deles e também não gostava do pregador.

“Depois disto, derramarei o meu Espírito sobre toda a humanidade. Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões” (Jl 3, 1)

David continuava a querer encontrar-se com os sete rapazes que estavam a ser julgados mas todos os seus esforços foram em vão. Desalentado, elevou aos céus uma prece bem específica: “Senhor, sabes que estou aqui por Tua conta. Cheguei ao fim das minhas humildes ideias; já não sei o que fazer. Se realmente há trabalho para mim neste lugar, diz-me qual é”. E iniciou uma longa caminhada pelas ruas de Nova Iorque que durou quatro meses. Aproveitando o seu dia de folga, David passou a ir a Nova Iorque uma vez por semana. Atravessava a ponte de Brooklyn e passava o tempo a percorrer os locais mais brutais e violentos da cidade, onde a própria polícia tinha dificuldade em intervir: guetos de negros e de porto-riquenhos que viviam da prostituição e do tráfico de droga, quadrilhas de adultos mas, sobretudo, de adolescentes que dominavam cada esquina e que cultivavam a violência em razão da própria violência. Desenvolvendo métodos de ataque brutais, usavam facas e pistolas com grande destreza e os assassinatos eram constantes.

Nestes bairros, David visitou as esquadras da polícia, conversou com assistentes sociais, ouviu oficiais de justiça, passou muitas horas na biblioteca pública, e a impressão global que teve foi tão estonteante que quase abandonou tudo. Neste preciso instante o Espírito Santo, com toda a suavidade mas muito claramente, manifestou-se, fixando no seu coração uma ideia bem forte: estes jovens tinham que começar de novo, com a personalidade inocente de um recém nascido; tinham que ser cercados de amor e não de ódio, tinham que ter esperança e não medo. Ao mesmo tempo, David teve a visão de uma casa muito bonita, onde havia uma cozinha espaçosa e muitas camas e cuja porta estaria sempre aberta.

Profundamente tocado, David exclamou em voz alta: “Senhor, que sonho maravilhoso! Mas quantos milagres serão necessários para a sua realização!”

“Mãos à obra pois eu estou convosco! Segundo a aliança que fiz convosco quando saístes do Egipto, o meu Espírito permanece no meio de vós. Não temais.” (Ag 2, 4b-5)

Dois sentimentos antagónicos animavam o estado de espírito de David: por um lado, sentia-se cheio de ânimo para concretizar o seu sonho; por outro, sentia-se inexperiente, fraco e incapaz de combater aquele inimigo poderoso que agia na grande cidade, um inimigo que apresentava promessas de segurança e de felicidade àquelas franjas juvenis, solitárias e sedentas de amor, oriundas de famílias de desempregados que viviam nas favelas, dando-lhes personalidades insensíveis e ferozes e fazendo-os sentir orgulhosos de serem assim.

Em oração, as palavras do Senhor a Zacarias e as de Jesus a Nicodemos vieram responder às suas angústias: “Não é nem pelo poder nem pela força, mas pelo meu Espírito (Zc 4, 6b) e “Quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus” (Jo, 5b). David pensou, então, que talvez houvesse um estranho paradoxo na sua falta de força, pois era nesta sua fraqueza que estava o poder, poder que não dependia de si próprio mas única e exclusivamente do Senhor, que faria o que ele não era capaz de fazer: aqueles adolescentes tinham de experimentar uma transformação dramática vivida no coração e esta transformação só poderia ser obra do Espírito Santo; David seria apenas o canal através do qual o Espírito iria actuar. Definitivamente, estava chegada a altura de tudo entregar ao Espírito de Deus.

“Pois Deus não nos deu um Espírito de temor, mas um Espírito de fortaleza, de amor e de autodomínio”(2Tim 1, 7)

O “Projecto Fort Greene”, em Brooklyn, era uma selva fervilhante de tijolos e de vidro onde habitavam mais de trinta mil pessoas, a maioria das quais negros e porto-riquenhos sem emprego. Os jovens desta zona estavam divididos em duas quadrilhas, precisamente as mais perigosas de Nova Iorque: “Os Capelães” (negros) e “Os Mau-Mau” (porto-riquenhos). Em guerra aberta com a polícia, usavam métodos de ataque e de combate extremamente violentos. Por isso, David achou que este era o melhor sítio para testar o Espírito Santo.

Uma sexta-feira de manhã cedo, David para lá se dirigiu com Jimmy Stahl, um amigo que tocava muito bem trompete. Com o intuito de juntar um grupo de adolescentes, Jimmy começou a tocar um hino religioso, foi repetindo o mesmo hino cheio de entusiasmo, as janelas começaram a abrir-se e dezenas de crianças e de adolescentes foram-se aproximando, aos empurrões e gritando vaias. David rezou, subiu para um poste e tentou falar-lhes mas logo apareceu um piquete da polícia. Fazendo uso dos cassetetes, ordenaram aos jovens que dispersassem e a David que fosse pregar para outro lado porque aquele já lhes dava bastante trabalho. Perante os protestos dos jovens, que gritavam que impedir de pregar era contra a constituição, a polícia empurrou o pregador e o amigo para o carro e levou-os para a esquadra. Aqui, David teve autorização para pregar mas sob a bandeira americana. E assim fez. De novo ele era, aos olhos dos jovens, o herói que tinha enfrentado as forças policiais.

No entanto, a sua popularidade em nada alterou o comportamento daquela assistência insolente: uns drogavam-se ali às claras, outros batiam palmas a pares de jovens em atitudes sensuais e provocatórias e outros ainda trocavam obscenidades. David entregou a Deus o enorme desespero que o invadia: “Senhor, não consigo sequer que me prestrem atenção. Se queres realizar aqui a Tua obra, rogo-te que faças com que me ouçam”. E a mudança começou ainda ele não tinha acabado de rezar. O ambiente acalmou, alguns rapazes tiraram o chapéu e baixaram a cabeça e todos se foram acomodando. Tomando como base um texto do Evangelho de S. João (Jo 3, 16), David falou-lhes sobre quanto Deus os conhecia e amava e disse-lhes que ia pedir um milagre para que as suas vidas fossem totalmente transformadas. O silêncio aumentou tanto que se podia ouvir o drapejar da bandeira sob a acção da brisa suave.

David voltou a rezar, pedindo ao Espírito Santo que realizasse ali a Sua obra, e incitou o presidente e o vice-presidente de cada uma das quadrilhas a virem falar com ele: “Se vocês são tão fortes e valentes como apregoam, decerto não terão medo de cumprimentar um pregador magrizela”. Dito e Simão, respectivamente presidente e vice-presidente dos “Capelães”, apresentaram-se, o pregador afastou-se com eles da multidão e, com o coração a bater desordenadamente, disse-lhes que queria que eles se ajoelhassem ali na rua e, com ele, pedissem ao Espírito Santo que entrasse nas suas vidas e as renovasse. Perante os olhos estarrecidos de David, aqueles dois chefes da uma das mais temíveis quadrilhas de Nova Iorque ajoelharam-se e os seus cabos de guerra fizeram o mesmo. Após um profundo momento de oração, levantaram-se e, em silêncio, partiram.

Logo a multidão começou a clamar por Israel e Nico, presidente e vice-presidente dos “Mau-Mau”. Os dois rapazes vieram à frente mas apenas Israel cumprimentou o pregador. Nico, pelo contrário, deu-lhe um empurrão e disse-lhe que o matava se se aproximasse dele. David respondeu-lhe com palavras de amor: “Gosto muito de ti”. Pela primeira vez na vida, Nico ouvia alguém dizer que gostava dele.

“Purificai-vos do velho fermento, para serdes nova massa”(1Cor 5, 7)

Foi programada para a segunda semana de Julho uma concentração de adolescentes num recinto desportivo, onde David teria oportunidade de falar com várias quadrilhas ao mesmo tempo. Apareceu um advogado que se ofereceu para pagar o aluguer das instalações, juntou-se um grande grupo de voluntários para os vários serviços necessários e David ficou responsável por motivar os jovens. Assim, andou por dezenas de ruas, falou com centenas de rapazes e raparigas mas em todo o lado encontrou uma enorme resistência. Para eles, viajar para fora dos seus domínios era uma aventura enorme e cheia de perigos. Mas, acima de tudo, tinham medo que alguma coisa no culto os fizesse chorar: chorar era sinal de fraqueza e de infantilidade num mundo sem piedade onde só os mais fortes sobreviviam. Para o transporte dos jovens através dos “territórios inimigos” organizou-se, então, um sistema de autocarros especiais que íam buscar cada quadrilha ao seu próprio território e as punham directamente no estádio.

Nos primeiros dias da campanha, o desânimo dos organizadores foi crescendo e David voltou a pedir insistentemente ao Senhor que lhe mostrasse a Sua vontade. A resposta veio através de um encontro que teve com Jo-Jo, o presidente de uma das maiores quadrilhas da cidade, “Os Dragões de Coney Island”. Oriundo de uma família de desempregados com dez filhos, onde a comida não dava para todos, Jo-Jo tinha sido posto fora de casa, vivia na rua e vestia e calçava roupa suja e muito usada. Manifestando um notável discernimento, este sem-abrigo, que se fazia duro e insensível, levou David a compreender que, até então e apesar de todos os seus esforços, não tinha estado a levar o Espírito Santo às quadrilhas: tinha-lhes estado a levar a sua própria pessoa, David Wilkerson.

“Não pelo poder, nem pela violência, mas sim pelo meu Espírito – oráculo do Senhor” (Zac 4, 6b)

A campanha estava a chegar ao fim e “Os Mau-Mau” nunca tinham comparecido, apesar de David ter ido pessoalmente convidar toda a quadrilha, assegurando-lhes um autocarro só para eles e também os lugares da frente no estádio. O pregador sabia que a causa desta ausência era o Nico.

Na última noite da campanha, chegou finalmente o autocarro com “Os Mau-Mau”. Cerca de cinquenta jovens saíram aos gritos, exalando rancor e violência. Enquanto se encaminhavam para o recinto, foram atirando fora garrafas de vinho vazias e provocando as raparigas que encontravam. Naquela noite, o estádio parecia um local onde se concentravam todos os ressentimentos e raivas não contidas. Sempre que David citava palavras de Jesus e falava de amor, o barulho aumentava e apareciam navalhas e pistolas nas mãos de muitos jovens, ao mesmo tempo que abriam as camisas e mostravam cicatrizes de cortes e de balas. Após uma pregação de cerca de vinte minutos, David parou e, rendido, entregou a reunião ao Senhor:”Senhor, envia o Teu Espírito e toca o coração destes jovens. Manifesta a Tua presença, Senhor, e que se faça apenas a Tua vontade”. A turba barulhenta foi acalmando, o silêncio foi passando de banco para banco e ouviu-se o som de alguém que chorava. Era Israel. E logo a seguir Nico. David ergueu a voz e disse: “Já todos sentiram que Jesus está aqui presente. E está aqui especialmente por vossa causa. Se alguém quiser ter uma vida nova, levante-se e venha para a frente. Israel não hesitou, Nico também não, e todos os “Mau-Mau” acompanharam os seus chefes. Atrás deles, mais de trinta rapazes de outras quadrilhas. E também raparigas, as mesmas que, ali no estádio e momentos antes, abriam os vestidos e expunham o seu corpo.

A conversão mais dramática foi a de Nico. Com um sorriso enorme, um brilho novo nos olhos e a voz embargada, gaguejou: “David, entreguei o meu coração a Deus.”

Todos os que tinham vindo à frente receberam uma bíblia; havia dois tamanhos mas nenhum quis o formato de bolso. Passaram quase toda a noite a ler e ficaram encantados, sobretudo com as histórias do Antigo Testamento.

No dia seguinte logo de manhã, David foi chamado ao telefone. Era o tenente da polícia, pedindo-lhe que fosse imediatamente à esquadra. Perante os elementos do destacamento policial e de toda a quadrilha dos “Mau-Mau”, o tenente estendeu a mão a David e disse-lhe: “Reverendo, como é que conseguiu este milagre? Há meses atrás, estes rapazes declararam-nos guerra aberta e hoje vieram aqui porque querem o nosso autógrafo nas suas bíblias!”

Israel adiantou-se e, espelhando felicidade, dirigiu-se ao pregador: “David, eu estou na bíblia. O meu nome está aqui em todo o lado.”

“Mas eu confio em ti, Senhor, e digo: Tu és o meu Deus. O meu destino está nas tuas mãos” (Sl 31, 15-16a)

Enquanto guiava de regresso a Philipsburg e durante os meses que se seguiram, David não conseguiu deixar de pensar nos rapazes e raparigas com os quais se tinha cruzado em Nova Iorque e cujas vidas o Senhor tinha entrelaçado na sua de um modo tão especial. Apesar de se entregar devotadamente à família e aos trabalhos da paróquia, começou a despontar nele a ideia de se mudar para Nova Iorque, juntamente com a mulher e os três filhos de tenra idade, para se dedicar a tempo inteiro àqueles jovens da rua. Mas seria de Deus essa vontade de ir para Nova Iorque? A resposta clara e definitiva não veio de imediato mas sim passo a passo.

“Filho de homem, contempla com os teus olhos e escuta com os teus ouvidos” (Ez 40, 4a)

O passo inicial foi o Senhor propiciar mais uma ida a Nova Iorque, tendo David começado por visitar a rua de Fort Greene onde decorrera aquela sua primeira reunião, à sombra da bandeira americana. David estava precisamente a reviver esta cena quando ouviu que o chamavam: eram Dito e Simão, agora dois garbosos soldados que orgulhosamente o cumprimentaram fazendo a continência. Entrar para a vida militar era, então, uma espécie de apogeu para a maioria dos rapazes, especialmente os dos bairros degradados, uma vez que as exigências do Exército eram bastante rigorosas.

Dito e Simão contaram a David que tinham abandonado a quadrilha (lembramos que eles eram, respectivamente, o presidente e o vice-presidente de “Os Capelães”, a quadrilha de jovens negros mais perigosa de Nova Iorque) logo após aquele primeiro encontro na rua e que a quadrilha se tinha dissolvido quase a seguir porque já ninguém queria brigar.

Mais adiante, David encontrou um rapaz que pensou reconhecer e perguntou-lhe se sabia do paradeiro de Israel e de Nico, o presidente e o vice-presidente da quadrilha “Os Mau Mau”. O rapaz respondeu com desdém: “Quem? Aqueles arruaceiros que se tornaram santos? O Nico endoideceu. Vai ser um desses pregadores malucos.” Nada poderia ter agradado mais a David.

Uns prédios à frente, David acabou por encontrar Nico, sentado nos degraus do passeio. Uma fisionomia simpática e acolhedora tinha substituído o olhar duro e rebelde de antigamente. Cheio de alegria, veio ao encontro de David e confessou-lhe o seu enorme desejo de ser pregador, mas não sabia por onde começar. David tinha sido convidado para ir, dali a alguns dias, à igreja de Elmira, em Nova Iorque, falar sobre os problemas dos jovens delinquentes nas grandes cidades, pelo que logo convidou Nico a ir com ele dar o seu testemunho.

“Vou curar as tuas chagas e sarar as tuas feridas – oráculo do Senhor” (Jr 30, 17)

Em Elmira, Nico fez uma descrição arrepiante da sua vida de criança numa família porto-riquenha, numerosa e muito pobre, que vivia numa só divisão e subsistia dando consultas de espiritismo; de como frequentemente mudavam de casa devido a confusões com a polícia; do enorme ódio que sentia por todas as pessoas fracas ou feridas (crianças, velhos, aleijados e cegos) a ponto de as atacar brutalmente, e da sensação de ferocidade e de loucura que sentia cada vez que via sangue; da sua entrada para vice-presidente de “Os Mau-Mau”, onde se tinha especializado a matar e a esfaquear, isto é, cortar sem matar, tendo estado na cadeia por onze vezes; e também contou daquela luta de morte com outra quadrilha, durante a qual lhe tinham apertado o pescoço com um cinto de couro e com tal violência que ficara com um grande defeito na fala. Seguidamente, Nico falou no seu primeiro encontro com David naquele dia em que este pregara aos jovens sob a protecção da bandeira americana, de como as palavras que ouviu o fizeram desistir do próximo ataque a uma quadrilha inimiga e, depois, contou o que lhe tinha acontecido na grande concentração de jovens delinquentes que tinha decorrido no estádio de S. Nicolau. Aqui, ouvira David dizer que o Espírito Santo podia entrar nas pessoas e purificá-las, fazendo com que começassem uma vida nova. E ele precisava disto: uma total transformação de vida, embora tivesse a certeza que já não havia remédio para a sua vida cheia de ódio e de maldade. Convidado pelo pregador, ajoelhou-se e, ali no estádio, fez a primeira oração da sua vida: “Querido Deus, sou o pecador mais sujo de Nova Iorque. Acho que o Senhor não me vai querer mas, se quiser, aqui estou. Assim como fui ruim, agora quero ser bom para Jesus.” A partir deste momento, confessou Nico, toda a sua vida se transformou. Regressou a casa com a Bíblia que recebera de oferta e, pela primeira vez, não sentiu medo nem se sentiu sozinho. Picou em pedaços a droga que tinha no bolso e atirou-a pela janela fora. Começou a tratar bem as crianças que se aproximavam e a não responder aos ataques verbais e físicos de que era alvo. Contou que chegara mesmo a ser ferido com um punhal e, ao ver o sangue que lhe corria da mão, logo lhe tinham vindo à memória algumas palavras que lera na Bíblia: “O sangue de Jesus nos purifica de todo o pecado”. Então, amarrara a mão com um bocado da camisa e, a partir daquele momento, acabou-se a loucura que sentia sempre que via sangue.

Nico tinha começado a contar a sua história com uma voz rouca e esforçada mas, à medida que prosseguia, os sons foram sendo pronunciados cada vez com menos esforço, tornando-se mais nítidos e, no final, a sua fala era completamente normal. Quando o próprio Nico teve consciência de que estava curado, começou a tremer e, incapaz de continuar a falar, deixou que as lágrimas lhe rolassem pela face.

Pouco tempo depois, entrou para um instituto onde começou a estudar para ser pastor. Para o mesmo instituto entrou também Angelo Morales, antigo membro da quadrilha “Os Dragões”, a que pertenciam aqueles sete rapazes acusados do homicídio de um jovem deficiente e cujo julgamento fora noticiado na revista”Life”. Havia decorrido um ano e meio desde aquela noite em que o Rev. David, ao folhear a revista, fora atraído pelo desenho que os retratava frente ao juíz, num tribunal de Nova Iorque.

“Que o Deus da esperança vos cumule de toda a alegria e paz na vossa fé, a fim de que pela acção do Espírito Santo a vossa esperança transborde”(Rom 15, 13)

Sentado na cadeira de couro do seu escritório na casa paroquial em Philipsburg, David pensava com satisfação nos acontecimentos dos últimos meses. Ao mesmo tempo, no entanto, sentia uma enorme preocupação em relação àqueles jovens recém convertidos que recaíam na droga e na violência. Como poderia ele evitar tais situações a tantos quilómetros de distância? Dia e noite rezava por eles, tentanto descobrir o que poderia ter sido feito, ou ainda fazer, de maneira diferente. E o Espírito Santo veio dar-lhe a resposta: os recém convertidos tinham de ser acompanhados de perto, não podiam ser abandonados. David começou de novo a sentir que alguma coisa estava para acontecer na sua vida. Aguardou serenamente. E aconteceu. Foi mais um passo no plano do Senhor.

“O meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra”(Jo 4, 34b)

Era uma quarta-feira quente de Agosto, noite de oração. No púlpito, David começou a tremer duma maneira que já conhecia: era o Espírito Santo que descia sobre si. Terminado o culto, sentiu-se empurrado para o meio de uma plantação de cereal que havia atrás da igreja. A lua brilhava com uma luminosidade fora do comum e uma brisa suave fazia balançar as hastes do trigo. De repente , o pregador ouviu-se a repetir as palavras do evangelista João: “Eu, porém, vos digo: erguei os vossos olhos e vede os campos que estão doirados para a ceifa. Já o ceifeiro recebe o seu salário e recolhe o fruto em ordem à vida eterna, de modo que se alegram ao mesmo tempo aquele que semeia e o que ceifa. Nisto, porém, é verdadeiro o ditado: um é o que semeia e outro o que ceifa. Porque eu enviei-vos a ceifar o que não trabalhastes e vós ficastes com o proveito da sua fadiga” (Jo 4, 35b- 38).

David começou a pensar que cada haste de trigo era um jovem das ruas de Nova Iorque, ansioso por começar uma vida nova. Olhou para a igreja e para a casa paroquial, onde a sua família vivia em paz e segurança, mas logo uma voz dentro de si lhe disse: “A igreja não é mais tua. Tens de partir.” Mansamente David respondeu: “Sim, Senhor. Eu irei.”

“Esforçamo-nos por agradar ao Senhor, quer permaneçamos em nossa mansão, quer a deixemos” (2 Cor 5, 9)

Voltou para casa, onde a mulher, Gwen, o recebeu com estas palavras: “David, não precisas de me contar nada. Eu também ouvi a voz. Vamos partir, não vamos?

No domingo seguinte era o quinto aniversário da sua permanência em Philipsburg, cinco anos maravilhosos em que haviam recebido contínuas provas de amizade por parte dos paroquianos. Do púlpito, o pregador contou-lhes a experiência por ele vivida no campo de trigo, assim como a surpreendente experiência que Gwen vivera ao mesmo tempo, dentro de casa. Disse-lhes que não tinha a menor dúvida de que era a voz do Senhor e que iriam obedecer: deixar Philipsburgh rapidamente. O destino provavelmente seria Nova Iorque mas ainda não tinham a certeza.

Naquela mesma tarde, David recebeu um telefonema de um pastor da Flórida, convidando-o para coordenar uma série de reuniões num retiro a realizar-se de imediato. Logo a seguir, outro telefonema e mais outro e outro, de modo que, no final daquele domingo, David estava ocupado com reuniões em diversos lugares nos Estados Unidos para as próximas doze semanas.

Embalaram os haveres, Gwen e os filhos foram provisoriamente para casa dos sogros em Pittsburgh e David partiu para os seus compromissos. Mas a ideia da grande cidade congestionada de sofrimento continuava a atraí-lo.

Numa reunião de pastores em Nova Jersey, foi lida uma carta das entidades policiais que incitavam as igrejas a tomar uma atitude mais activa nas questões relativas aos jovens. Um pastor falou sobre o trabalho que David desenvolvera junto das quadrilhas de Nova Iorque e David falou sobre a continuidade que agora poderia dar a esse trabalho. Logo ali nasceu um novo ministério, a que foi dado o nome de “Evangelismo Jovem”, e cujo principal propósito era levar aos jovens a mensagem do amor de Deus. Seria necessário manter um escritório, arranjar algum pessoal e, no mínimo, vinte mil dólares no primeiro ano para pagar, entre outras, as despesas de arrendamento, salários e impressos. David, escolhido para director do projecto devido à sua experiência anterior, aceitou. Sabia que, tal como o outro David, também ele iria enfrentar o Golias apenas com uma funda, mas tinha a certeza de que Deus estava do seu lado e o Espírito Santo o faria permanecer firme nos propósitos e na fé.

“Sê forte e valente! Não temas nem te aterrorizes à vista deles. Pois o Senhor teu Deus vai contigo; não te deixará sucumbir nem te abandonará”( Dt 31, 6)

Recebidas as chaves daquela linda mansão que Deus providenciara para Centro e lar do projecto “Desafio Jovem”, o passo que se seguiu foi limpar o lixo acumulado ao longo dos anos e proceder a obras de reestruturação. Respondendo ao apelo de várias Igrejas, dezenas de nova-iorquinos voluntarizaram-se para as tarefas necessárias, incluindo homens de negócios e artistas famosos que se encarregaram da angariação dos fundos necessários.

Foi deliberado, em oração, um esquema de funcionamento que pudesse dar corpo ao projecto, baseando-se no trabalho de rua de vinte jovens obreiros, devidamente preparados e especializados. Após uma manhã de oração e estudo da Sagrada Escritura, os obreiros sairiam ao encontro não só das quadrilhas de adolescentes, mas também daquela jovem população flutuante que vivia pelas ruas dos bairros mais degradados de Nova Iorque, em extrema pobreza e solidão e completamente viciada em drogas, álcool e prostituição. Os casos mais graves seriam levados para o lar para serem devidamente tratados e aí viveriam até à sua total recuperação; os outros seriam entregues a um pastor que morasse perto e que trabalharia em interacção com o Centro.

O trabalho dos obreiros era muito arriscado e praticamente feito de graça. Quem é que queria aceitar este desafio? Numa palestra que o Rev. David Wilkerson foi convidado para fazer aos alunos da Escola Bíblica Central em Springfield (Missouri), e após um profundo momento de oração, o Espírito Santo de novo se manifestou e David pôde escolher vinte de entre setenta que se apresentaram, dispostos a entregar totalmente as suas vidas a esta causa.

“Ele salvou-nos, não em virtude de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas mediante um novo nascimento e renovação do Espírito Santo, que Ele derramou abundantemente sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador”(Tt 3, 5-6)

Durante o primeiro mês de actividade do Centro, mais de quinhentos jovens foram alcançados com a mensagem do Espírito: deixaram a rua, procuraram emprego, começaram a frequentar a Igreja. Houve mudanças de vida dramáticas, aconteceram conversões que foram autênticos milagres e muitos rapazes e raparigas renderam-se totalmente ao senhorio do Senhor Jesus e viveram intensas experiências religiosas que os conduziram à vida consagrada.

Mas também houve recaídas. David, muito preocupado, chamou um a um alguns dos rapazes e raparigas vitoriosos para mais uma vez ouvir os seus testemunhos e em todos havia um denominador comum: apesar do momento alto da conversão, a completa vitória só viera após a efusão do Espírito Santo. David sentiu-se no limiar de algo maravilhoso: era o poder do Pentecostes a actuar directamente nas chagas daqueles ex-membros de quadrilhas, ex-viciados no mal, transformando-os e fazendo deles homens e mulheres novos, renovados.

Provada que foi esta relação entre a efusão do Espírito Santo e a capacidade de um jovem abandonar definitivamente o vício, David e a sua equipa programaram-se no sentido de levar todos os jovens a receber a efusão. Dia a dia foram acontecendo libertações e a percentagem de curas permanentes foi aumentando. Ao contrário dos narcóticos, o Espírito Santo prendia para libertar: prendia a Jesus Cristo para lhes dar a certeza de uma vida nova em esperança e liberdade.

Rafael, por exemplo, fumara maconha durante dois anos e usara heroína durante três. Centenas de vezes tentara libertar-se do vício, abandonando a quadrilha onde os outros membros o ajudavam a injectar o líquido nas veias, mas todas as vezes falhou. Certa noite, antes que assassinasse alguém quando estivesse louco sob o efeito das drogas, resolveu matar-se e subiu para um telhado. De repente, ouviu um cântico que vinha de uma reunião de oração numa casa mesmo ali em frente. Rafael desceu, atravessou a rua, foi convidado a entrar e ouviu falar de como Deus estava a agir nas ruas de Brooklyn, ajudando jovens viciados e presos a quadrilhas. Rafael foi tocado, entregou a sua vida a Cristo e, mais tarde, recebeu a efusão do Espírito Santo na capela do Centro “Desafio Jovem”. Ao fim de um ano sem consumir drogas, começou a ser assediado pelos seus ex- companheiros de quadrilha e voltou as enfiar a agulha nas veias. Mas desta vez aconteceu uma coisa estranha: a droga não fez qualquer efeito, foi como se não tivesse tomado nada. Experimentou, isso sim, uma enorme vontade de ir rezar para a igreja mais próxima. E durante a oração, em vez de sentir nojo de si próprio, sentiu-se totalmente perdoado e invadido por um amor imenso. Os olhos de Rafael brilhavam enquanto dizia a David: “Reverendo, acho que estou verdadeiramente preso, não pela heroína, mas pelo Espírito Santo. Ele está dentro de mim, tomou posse de mim e não me vai deixar fugir”.

“O Espírito e a Esposa dizem:”Vem!” Diga também o que escuta: “Vem!” O que tem sede que se aproxime; e o que o deseja beba gratuitamente da água da vida” (Ap 22, 17)

Assim, diariamente se foram escrevendo novos capítulos nas vidas de tantos jovens das ruas de Nova Iorque. E um volume novo começou a escrever-se em Chicago, onde foi aberto outro Centro “Desafio Jovem”.

Quando algum dos colaboradores pergunta a David onde está o dinheiro, onde estão os livros, quem é o responsável, a sua resposta é sempre a mesma: o responsável é o Espírito Santo. E explica-lhes como, desde o começo do cristianismo, a efusão do Espírito Santo, o baptismo no Espírito Santo, tem tido um significado especial porque marca a diferença entre o trabalho de um homem, ainda que audacioso e bem sucedido, e a missão de Jesus Cristo: Jesus baptizaria os Seus discípulos com o Espírito Santo que viria depois da Sua morte e que ficaria para sempre com eles para os confortar, guiar e dar-lhes aquele poder que permitiria levarem ao mundo a Sua mensagem. Por isso, enquanto o Espírito Santo for o responsável, os programas progredirão; no momento em que tentarmos resolver as coisas pelo nosso próprio poder, fracassaremos.

E é precisamente com estas palavras que o Reverendo David Wilkerson termina “A Cruz e o Punhal”: “O Espírito Santo é o responsável. Deveríamos escrever estas palavras nos umbrais das nossas casas. Mas como palavras não podem significar muito, faremos melhor: vamos escrevê-las nas nossas vidas e nas vidas de todos aqueles que pudermos alcançar e inspirar com o Espírito do Deus Vivo”.

Isabel Moraes Marques